Bako Sahakyan: "A Europa começa no Nagorno-Karabakh"

Entrevista com Bako Sahakyan, presidente do Nagorno-Karabakh.
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Não se nota que a comunidade internacional esteja a dar passos para o reconhecimento da independência do Nagorno-Karabakh (NK). A Europa, por exemplo, tem-se mostrado muito tímida. Como olha para esta questão?

No início do século XX, com as transformações geopolíticas, o NK foi incluído à força num estado criado de forma artificial chamado Azerbaijão. Por isso, este não é um conflito regional, mas sim uma questão geopolítica. Temos noção de que o apoio que recebemos é muitas vezes tímido, mas isso acontece porque as pessoas têm medo de expressar a sua opinião. É importante passar a mensagem de que a Europa começa no NK.

Essa timidez deve-se a pressões por parte do Azerbaijão?

A pressão do Azerbaijão existe, mas os políticos europeus deveriam mostrar mais força e não ter medo. De outra forma, o Azerbaijão tornar-se-á cada vez mais agressivo. Aquilo que pedimos aos nossos parceiros europeus é que mudem a forma de trabalhar e de olhar para este assunto. Os países europeus têm relações muito próximas com o Azerbaijão - um país cuja filosofia e cujo sistema político contraria princípios básicos internacionais - apenas porque o Azerbaijão é um estado reconhecido. E, ao mesmo tempo, negam qualquer tipo de relações com o NK - que é um estado democrático - apenas porque não é reconhecido. Esta política não faz sentido. É preciso repensar esta abordagem. É ridículo e até negativo desenvolver relações com um país cujas políticas contrariam os princípios básicos da civilização europeia e negar as mesmas relações a um estado que se desenvolve de acordo com todos esses valores.

Quando se encontra com líderes europeus eles dão-lhe uma explicação para esse comportamento?

Claro que colocamos essas questões. Além disso temos grupos de amizade com vários parlamentos nacionais. Acreditamos que com esse trabalho poderemos mudar a opinião dos países europeus.

Sabemos que coloca as questões. Mas quais são as respostas que recebe?

A nível pessoal, as pessoas entendem perfeitamente o que dizemos. Mas, a nível político, têm que manter as respostas políticas. Ainda assim, sentimos que alguma coisa está a mudar.

Como comenta o facto de o NK não ter lugar na mesa das negociações de paz?

O regresso do NK às negociações é indispensável para a resolução do conflito. Sem a nossa participação, a paz é impossível. Ainda assim, o formato atual, mesmo sem a nossa presença, é pelo menos melhor do que a guerra ou do que um ponto final nas negociações. Precisamos de estabilidade e de segurança e só por isso é que aceitamos que as negociações continuem desta forma (com a Arménia como porta-voz do NK). Mas, volto a sublinhar, que não será possível dar passos decisivos para a resolução do conflito sem a participação de Stepanakert. Ierevan e o grupo de Minsk também dizem o mesmo e estou convencido de que um dia isso irá acontecer.

A vossa avaliação da ameaça azeri mudou desde a escalada de abril de 2016? Julga que o Azerbaijão pode tentar conquistar Stepanakert?

É evidente que o Azerbaijão tem essa intenção e esses planos. E não os escondem. Estão sempre a falar disso, sempre a dizer que vão invadir, que vão à força tomar o NK e destruir a nossa herança. Não podemos negligenciar esta ameaça e é por isso que temos de reforçar a nossa Defesa.

Que percentagem do PIB do NK é gasta na Defesa?

Não vou responder, mas não quero que pensem que se trata de um segredo. É preciso olhar para a questão de outra forma. Há países com exércitos grandes e países com exércitos pequenos. O caso do NK é diferente. Somos um exército feito pelas pessoas. A nossa população inteira está disponível para defender a terra mãe.

Mesmo que informais, tem contactos com a presidência do Azerbaijão?

Não. Não temos quaisquer canais de comunicação, mas pensamos que isso seria muito importante para resolver o conflito de uma forma civilizada e pacífica. Estamos prontos para ter esses contactos, mas, infelizmente, eles não querem.

Para a resolução do conflito poderá vir a estar em cima da mesa uma troca de territórios?

Quando olhamos para o conflito como uma questão de ocupação de territórios estamos a distorcer a essência do conflito. A criação do Azerbaijão, na sua génese, foi uma agressão porque ocuparam a nossa terra histórica. Terá que haver uma forma diferente de resolver o conflito. Esperamos que uma nova liderança chegue ao poder no Azerbaijão.

A entrevista foi concedida em conjunto ao jornalista do DN que assina esta reportagem, a Maria Karchilaki, repórter da CNN Grécia, e a Luigi Spinola, diretor da revista eastwest

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