Baixo uso de contracetivos em Moçambique deve-se a fatores socioculturais e fraca rede de saúde
Em entrevista à Lusa, Páscoa Zualo Wate apontou um inquérito de 2015 que refere que, em Moçambique, apenas 25,3% das mulheres em idade fértil, na faixa entre os 15 e os 49 anos, usaram um método contraceptivo num período daquele ano, em comparação com taxas acima de 70% usados nos países mais ricos.
A chefe do Departamento de Saúde da Mulher e Criança assinalou que o país quer que 35% das mulheres em idade fértil recorram a contraceptivos até 2020, como forma de intensificar a adesão ao planeamento familiar.
"O sucesso nos programas de planeamento familiar é crucial para o controlo da natalidade e da pressão demográfica no país", destacou Páscoa Wate.
Páscoa Wate afirmou que a exclusão da maioria das mulheres moçambicanas dos métodos de contracepção modernos deve-se a uma multiplicidade de fatores, incluindo a insuficiente cobertura dos serviços de saúde e razões socioculturais.
"A nossa rede sanitária, de facto, ainda não cobre a população no que era desejável, há quem tenha de andar quatro a cinco horas para chegar a um posto de saúde", declarou a chefe do Departamento de Saúde da Mulher e Criança no Ministério da Saúde.
As causas socioculturais na fraca adesão ao planeamento familiar manifestam-se, por exemplo, no facto de muitas famílias continuarem a associar o número de filhos à riqueza, na crença de que ter filhos consolida os laços conjugais, e no facto de haver mulheres que ainda acreditam no mito de que o uso de contraceptivos pode prejudicar a reprodução, disse Páscoa Wate.
"Pensa-se que quantos mais filhos uma mulher tiver, melhor. Se uma mulher nunca concebeu e usar uma forma de evitar ficar grávida, evitar ter filhos, corre o risco de nunca mais ter filhos", acrescentou.
Por outro lado, prosseguiu, a marginalização da mulher na tomada de decisão sobre a família, nomeadamente em relação ao casamento e ao número de filhos, também contribui para a pouca adesão aos contraceptivos.
Páscoa Wate apontou também a pobreza e consequente vulnerabilidade das raparigas à gravidez precoce como outra causa da reprodução não planeada, defendendo a mobilização das instituições do Estado e da sociedade em geral contra os casamentos prematuros e a violação sexual.
Wate adiantou que, para que mais famílias adiram ao planeamento familiar, as autoridades sanitárias apostam no alargamento do acesso aos métodos contraceptivos e disseminação de mais informação, com o envolvimento de todos os setores sociais, incluindo organizações religiosas e líderes comunitários.
As instituições do Estado e a sociedade em geral devem bater-se pelo fim dos casamentos prematuros, porque colocam, potencialmente, as raparigas fora dos programas de planeamento familiar.