Baixa-Chiado
Nas duas últimas décadas, grandes cidades como Barcelona, Londres, Paris, Nova Iorque, Dublin ou Amesterdão reforçaram o seu papel de destino turístico central dos respectivos países graças a intervenções urbanísticas revolucionárias.
Lisboa tem extraordinárias qualidades endógenas como destino turístico: rio, História, acessibilidade aérea de um aeroporto dentro da cidade, equipamentos hoteleiros e de diversão ao nível do melhor (Hotel Ritz, discoteca Lux, restaurantes como Bica do Sapato ou Papa Açorda, entre exemplos orgulhosamente mencionáveis).
Depois do impacto estruturante para Lisboa da reabilitação da zona oriental, a notícia da criação de um comissariado para a reabilitação integral da zona Baixa-Chiado tem de ser encarada com enorme expectativa por quem acredita na melhoria do País, em particular de Lisboa como destino turístico.
Olhando a composição do comissariado que tomou posse em Março, da presidente (Maria José Nogueira Pinto) ao responsável para o urbanismo, mobilidade e espaço público (Manuel Salgado) oferece a experiência e prestígio são fundamentais para enfrentar uma tarefa deste calibre, tão difícil quanto aliciante. Construir áreas novas de uma cidade, como a Expo, La Défense ou parte das docklands de Londres é, apesar da complexidade e das dificuldades óbvias das missões, mais fácil que pegar num casco histórico e renová-lo: sai mais caro por metro quadrado recuperar que construir de novo e sai muito mais caro socioculturalmente se corre mal.
Dois exemplos, à sua escala, creio demonstrarem o que se diz: (1) a intervenção arquitectónica pós- -incêndio do Chiado, que, apesar da qualidade técnica, não teve o condão de fixar uma comunidade residente que assegurasse "vida" à zona; e (2) a gestão do tráfego, que, entre gregos e troianos, peões e motoristas, não é a solução mais desejável para tão multifuncional zona.
Se este comissariado conseguir encontrar o caminho para uma intervenção estruturante e integrada, capaz de ligar os elementos da polis neste pedaço fundamental da capital - a economia real, a qualidade de vida, a preservação cultural e a conveniência confortável para quem vem de fora - Lisboa reforçará imensamente o seu papel de destino central do turismo nacional. E o bom da notícia é que o poderá fazer em apoio das outras pontas da "constelação turística": tipicamente, o sol e praia do Algarve e da Madeira, o turismo residencial - do Alentejo ao oeste - e os segmentos mais especializados dos diversos circuitos turísticos.
Quem quiser utilizar Portugal para descansar ou para trabalhar (congressos, incentivos, etc.) poderá ter à sua espera uma capital rejuvenescida no centro histórico, com novos hotéis, restaurantes, bares, praças, teatros, centros de cultura e recreio, tudo à beira do rio e com a segurança e vitalidade que só uma ocupação permanente e ordenada das áreas urbanas permite.
Desta forma, também os poderes central e local terão a razão legal de que precisam para criar um estatuto de excepção para a área de intervenção como um todo, condição essencial para ultrapassar o dédalo de instrumentos mais ou menos avulsos de legislação e práticas administrativas que impedem hoje a viabilidade económica, financeira e sociocultural de um projecto tão importante. C