Bagdad recupera Kirkuk e tira poços de petróleo aos curdos

Região produz 50% do crude do Curdistão. Operação sucede após referendo que deu vitória ao "sim" à independência.
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Os combates foram de curta duração e os mortos poucos, mas o simbolismo daquilo que ontem sucedeu em Kirkuk não podia ser maior. As forças do governo de Bagdad entraram na cidade e hastearam a bandeira nacional na sede do governo provincial um dia depois do início das operações para reconquistar aquela que é um dos principais centros urbanos do Norte do Iraque e que estava sob controlo das milícias curdas desde 2014, que o conquistaram ao Estado Islâmico.

Os únicos combates importantes terão sucedido a sul, no exterior do perímetro urbano de Kirkuk, e terão provocado dez mortos entre as milícias peshmerga (as forças curdas) e um número indeterminado entre os iraquianos das unidades antiterroristas, treinadas pelos Estados Unidos (referia ontem a Reuters), da polícia federal e dos voluntários xiitas.

Testemunhas locais disseram às agências que unidades iraquianas entraram na cidade e avançaram, sem resistência, até à sede do governo principal, onde substituíram a bandeira curda pela bandeira nacional do Iraque. Estas forças foram saudadas pela população de origem turcomana . Por outro lado, ao longo do dia, surgiram notícias de que parte dos habitantes curdos de Kirkuk abandonaram a cidade, que conta mais de um milhão de residentes, receando represálias. Ao início do dia, eram visíveis longas filas de veículos nas estradas para a capital do Curdistão iraquiano, Erbil, e para uma outra das principais cidades da região, Sulaimaniya.

Para os curdos, Kirkuk reveste-se de especial valor emblemático, sendo um dos centros culturais desta etnia, e de forte relevância económica. Kirkuk, cidade plural em termos étnicos e religiosos, situa-se na imediata periferia da região autónoma do Curdistão, que a consideram parte integrante do seu território. Os curdos afirmam ainda que populações de outras etnias, especialmente de origem árabe, foram levadas para a zona de Kirkuk na época do regime de Saddam Hussein.

Mais de 50% da produção petrolífera diária do Curdistão (550 mil barris) tem origem nos campos petrolíferos em torno da cidade. O petróleo aqui produzido é exportado através da Turquia, país que criticou a realização do referendo sobre a independência do Curdistão, a 25 de setembro.

A situação tornara-se particularmente tensa na sequência do referendo com o "sim" à independência a receber uns expressivos 92%. Além da população curda, maioritária na cidade e na região, existem minorias turcomanas e árabes.

Após o referendo, o governo do primeiro-ministro iraquiano Haidar al-Abadi emitira um ultimato exigindo a retirada dos peshmerga da cidade. Perante a ausência de resposta curda, as forças iraquianas lançaram uma ofensiva relâmpago na noite de domingo para segunda. Aparentemente, as milícias curdas decidiram não oferecer grande resistência. Facto admitido por Hemin Hawrami, um conselheiro do presidente do Curdistão, Massoud Barzani, que acusou as forças do partido contrário ao líder curdo, a União Patriótica do Curdistão, de terem retirado sem combater. Hawrami garantiu que Bagdad irá pagar um "preço elevado" pela operação.

De facto, ontem temia-se um agravamento das tensões na região e a possível abertura de uma nova frente de conflito num Iraque que vive em situação de guerra civil desde o fim do regime de Saddam, em 2003. Uma escalada no conflito entre Bagdad e os curdos contribuiria ainda para agravar as tensões regionais.

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