Bachelet defende educação como motor de igualdade

Presidente chilena, agora feita doutora honoris causa por Évora, vê escola de qualidade como garante de crescimento económico
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Foi com os seculares azulejos da Sala de Atos da Universidade de Évora como cenário que Michelle Bachelet defendeu a educação como um direito humano básico e "motor de igualdade e de desenvolvimento" para qualquer país, a começar pelo seu Chile. Podia ter sido apenas mais um discurso cheio de boas intenções de honoris causa, e a chilena já coleciona uma dúzia, mas a história pessoal daquela que pela segunda vez é presidente da república dá um valor especial às suas palavras, como quando citou José Saramago para lembrar que para se ter alunos de excelência nas universidades há que começar por oferecer às crianças escolas primárias de qualidade.
Numa sala a abarrotar, numa universidade alentejana refundada em 1979 mas cujas origens remontam ao século XVI, Bachelet falou de como quer "fazer do Chile uma sociedade com mais igualdade mas ao mesmo tempo mais competitiva" e que isso passa por construir "um sistema de educação de qualidade". E apesar de o tema da palestra ser "educação, educação e educação", a presidente não esqueceu de mencionar a importância do acesso à saúde ou não fosse ela médica pediatra.

No final, uma grande salva de palmas, de uma audiência rendida a esta militante socialista desde muito jovem, que foi presidente do Chile entre 2006 e 2010 e voltou a ser eleita em 2014, tendo pelo meio liderado a ONU Mulheres. A igualdade de género é outra das suas causas, como se pode constatar na entrevista que deu ao DN e que foi publicada na segunda-feira.

O laudatio foi proferido pelo professor Jorge Araújo, que traçou um perfil de "Mica", como a presidente era tratada em criança, e descreveu-a como "nascida numa família culta, laica e liberal". Falou da militância da jovem quando Salvador Allende era presidente e a esquerda governava o Chile, do sofrimento aquando do golpe militar de Augusto Pinochet em 1973, que resultou na tortura e morte do seu pai general, e depois da prisão e exílio que a futura médica sofreu. E, claro, elogiou o regresso ao Chile, ainda antes do referendo de 1988 que Pinochet convocou e perdeu, e o seu percurso como ministra da Saúde e da Defesa e depois presidente "sempre com os direitos humanos como preocupação".

De manhã, a presidente chilena teve direito a honras militares na Praça do Giraldo, onde além das bandeiras portuguesa e chilena, a decoração incluía colchas vermelhas e douradas penduradas nas janelas. Guiada por Marcelo Rebelo de Sousa, decidido a mostrar que "Portugal não é só Lisboa", Bachelet percorreu o centro histórico de Évora, indo à Sé, passeando junto ao templo romano e seguindo para a Fundação Eugénio de Almeida, onde decorreu uma conferência de imprensa. Entre promessas de parceria económica e planos para celebrar os 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães, os dois presidentes mostram cumplicidade e à saída, já dentro do carro oficial, pararam para acenar a um grupo de jovens que gritavam "Marcelo, Marcelo, olé, olá". De vidro aberto, o presidente deixava que os miúdos tirassem as selfies possíveis. Foi assim o dia todo, e Bachelet sorria.

Houve ainda tempo para almoço no Palácio de D. Manuel, que demorou mais do que o previsto, atrasando a cerimónia de doutoramento honoris causa. Chegada ao Colégio do Espírito Santo, a presidente chilena teve direito a uma breve visita guiada pela reitora Ana Costa Freitas, que incluiu a Sala de Geometria e Astronomia, talvez a mais simbólica da universidade criada em 1559 pelos jesuítas.
"Que senhora tão distinta", comentou uma estudante para outra. Falava de alguém, ontem trajada de toga preta e castanha e já com a gorra, que a Forbes considerava no ano passado a 18.ª mulher mais influente do mundo. Já o seu Chile, surge como o primeiro dos países latino-americanos, segundo o índice de desenvolvimento humano da ONU. Surge até à frente de Portugal, mas Bachelet ambiciona mais. As tunas, essas, não paravam de saudar a nova doutora.

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