Aves desaparecem do Bolhão... aos poucos

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O alarmismo em torno de uma possível pandemia da gripe das aves parece não assustar alguns vendedores do Mercado do Bolhão e, pelos vistos, as ordens da Câmara do Porto também não. Ontem ainda havia quem tivesse aves vivas para venda. Nomeadamente na banca de Lucinda Alves, onde haviam pombas, faisões, codornizes e galinhas, entre outras espécies. Mas por pouco tempo. Sem compreender a directiva da autarquia, esta vendedora assegura que hoje já não terá aves à venda. "O patrão ainda agora esteve aqui e mandou arrumar tudo, senão o material é confiscado", explica.

Por achar que o mercado não tem condições de confinamento e desinfecção adequadas à comercialização de aves vivas, o Gabinete das Actividades Económicas decretou o impedimento de venda de aves neste mercado portuense.

A incompreensão em torno da medida prende-se com o facto de ela ser limitada ao Bolhão. "Ainda hoje esteve aqui uma senhora que me disse que, na segunda-feira, havia galinhas à venda na feira de Espinho. E hoje, pelo que já ouvi dizer, também havia na de Famalicão e nos Carvalhos", assegura. O facto de em outros locais da região, e mesmo da própria cidade, não ser proibida a venda dos animais, deixa Lucinda Alves indignada. "Então só aqui é que há perigo? E nos outros sítios?", questiona, lembrando que na Feira dos Passarinhos, que decorre na Cordoaria aos domingos de manhã, é permitida a venda de aves vivas.

O facto de ter de fechar a banca é outro lamento para esta vendedora. Com 69 anos, Lucinda diz que só vende neste mercado e questiona como seria se isto sucedesse noutros tempos "Se fosse quando tinha aqui várias ajudantes, queria ver como ia fazer para lhes pagar." Deixar de vender, só no mercado. "Se aparecer algum cliente lá em casa, nunca se sabe", diz, entre sorrisos comprometedores.

Menos preocupado com esta situação mostra-se Ramos, um funcionário de uma loja de animais no Bolhão. "Os pássaros são criados por nós, não são importados. Se estes são perigosos, então não há nenhum seguro", diz. Entre as espécies visíveis nas gaiolas estão periquitos, pardais e canários. "Até agora ninguém nos disse nada", assevera, garantindo que as pessoas continuam a ir à loja. Se a história mudar, logo se verá. "Temos de resolver isto de outra maneira."

Certo é que, em poucos dias, as várias bancas de vendas de aves vivas no Bolhão ficaram desertas. E, com maior ou menor vontade, os vendedores acabaram por acatar a decisão da autarquia.

Mesmo que não percebam qual o problema das galinhas e dos patos, quando "andam aqui pombas à solta, que nem sabemos por onde andam ou o que é que comem", lamenta a dona Lucinda, enquanto dá mais um jeito na sua banca, sem clientes.

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