Avalancha arrastou hotel italiano dez metros e não há sinais de vida
Quando os socorristas italianos conseguiram chegar ao Hotel Rigopiano, já de madrugada, o edifício de quatro andares estava reduzido a apenas um. Todo o resto do complexo hoteleiro de quatro estrelas em Farindola estava soterrado pela neve, tendo sido arrastado dez metros pela força da avalancha que terá sido espoletada pelos sismos que abalaram a região. Duas pessoas foram resgatadas com vida depois de se terem abrigado num carro, dois corpos foram recuperados, mas dos outros cerca de 30 hóspedes e funcionários - alguns dos quais tinham lançado alertas pelos telemóveis - não havia ontem sinal de vida.
"O hotel está quase completamente destruído. Chamamos as pessoas, mas não há respostas, não se ouvem vozes", disse à Reuters um dos membros do equipa de resgate alpino, Antonio Crocetta. "Não há sinais de vida", disse o porta-voz dos bombeiros, Luca Cari, à AFP. Os cães pisteiros não registam sinais de vida. Os socorristas, que só conseguiram chegar ao local de esquis por causa da neve que cortou os acessos, entraram no lóbi do hotel, apenas para depararem com uma muralha de gelo e destroços. Colchões estavam a centenas de metros do local.
Segundo os media italianos, todos os hóspedes já tinham feito o check-out e esperavam que o limpa-neves abrisse caminho para poderem deixar o hotel. A partida estava inicialmente prevista para as 15.00 locais (mais uma hora do que em Lisboa), depois para as 19.00. A avalancha atingiu-os primeiro. As autoridades já abriram uma investigação por homicídio negligente, para averiguar se foi ou não emitido o alerta de risco de avalancha e se as autoridades cumpriram com a obrigação de evacuar a região. Um dos primeiros alertas para a tragédia foi emitido pelas 17.40 locais por Quentim Marcella, patrão de um dos sobreviventes, Giampiero Parete. "Lancei o alarme, mas não acreditaram em mim." Houve também quem tivesse enviado mensagens de texto: "Ajudem-nos, estamos a morrer de frio", terá escrito um casal, segundo a agência italiana Ansa.
Giampiero, de 38 anos, contou aos médicos que se salvou porque estava no exterior. "Estou vivo porque fui ao carro buscar um medicamento para a minha mulher que estava com dores de cabeça. Quando voltava para o hotel, ouvir barulhos e vi a montanha a cair", disse, citado pelos media. Estava com hipotermia. "Fiquei soterrado, mas só parcialmente. Tentei entrar no hotel, mas temi ficar preso. Consegui arrastar-me até ao carro, onde encontrei o homem da manutenção do hotel [Fabio Salzetta] e pedimos ajuda", explicou. De dentro do hotel não ouvíamos nada. Os meus dois filhos e a minha mulher estão lá dentro", acrescentou. As crianças terão 6 e 8 anos.
Os esforços para socorrer as vítimas foram dificultados pela neve, que além de ter cortado comunicações deixou a região debaixo de metros de neve. Só às primeiras horas da manhã é que os helicópteros puderam chegar ao local, com a maioria dos veículos a ficar a quase dez quilómetros do hotel - o restante percurso foi feito em esquis pelos socorristas que chegaram à zona só às 04.40 locais. O primeiro sobrevivente foi resgatado às 09.30.
"Peço a todos para multiplicarem os esforços, para mostrarem sobriedade respeitando a dificuldade da situação, o empenho das forças civis e militares e a dor das famílias que sofreram perdas. Peço a todos os italianos para reforçarem a solidariedade em relação às populações atingidas", pediu o primeiro--ministro italiano, Paolo Gentiloni. Já o presidente Sergio Mattarella apelou à "grande união" das pessoas.
Desde o sismo de magnitude 6.2 de 24 de agosto de 2016, que destruiu a cidade de Amatrice (matando 298 pessoas), já foram registados mais de 45 mil abalos, segundo o líder da Proteção Civil de Itália, Fabrizio Curcio. É quase um a cada cinco minutos. A maioria, contudo, não foi sentida pela população - a exceção maior foi em finais de outubro (magnitudes 5.4, 5.9 e 6.5). A região voltou a tremer nesta quarta-feira, o que terá desencadeado a avalancha que soterrou o Rigopiano, no Parque Natural de Gran Sasso.