Os regimes democráticos liberais estão a passar por uma fase perigosa que põe em risco a sua competitividade perante regimes de reforçada autoridade, com ou sem legitimação eleitoral. A crise é patente nas democracias mais antigas e aparentemente consolidadas. Da América que elegeu Trump ao Reino Unido cujas instituições no tema do Brexit parecem uma anedota, à França dos coletes amarelos, à fragilidade generalizada dos governos da União Europeia, ao desmoronamento de incipientes democracias na América Latina, por todo o lado medram populismos que destroem a confiança nas instituições democráticas..Será que se mantém atual a crença na célebre máxima de Winston Churchill "A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais"?.Se tivermos em conta apenas os resultados económicos e sociais obtidos por regimes de partido único ou com governos autoritários que desrespeitam princípios fundamentais da democracia e do Estado de direito, a balança começa a pender para estes..Convinha que estas realidades não fossem ignoradas por quem continua a acreditar que a democracia é o único regime que pode contribuir para a felicidade dos seus destinatários. E o que nós, cidadãos, temos feito para preservar a confiança na democracia?.Acho que os políticos, a comunicação social, os Facebooks e C.ª, os comentadores e uma legião de afetados pelo ressentimento e a frustração, todos, temos contribuído para o crescente desprestígio das instituições democráticas. Sob o lema da transparência e do severo escrutínio dos políticos, o voyeurismo, a maledicência, as fake news, tomaram de assalto o espaço público e ninguém escapa incólume a suspeitas, com ou sem fundamento..O efeito deste sistema demolidor de reputações é a rarefação de vocações para o exercício da política. Cada vez menos pessoas com valor e potencial de satisfação em atividades privadas estão dispostas ao sacrifício em que se tornou essa atividade..E quanto mais os políticos vão, em nome da transparência, criando impedimentos, incompatibilidades, restrições ao exercício de outras atividades, mais vão empobrecendo o Parlamento, o governo e a democracia, restringindo o mercado de recrutamento aos boys e girls das juventudes partidárias, sem outras ambições que não o carreirismo político-partidário..O atual governo, na sua dimensão familiar de que agora tanto se tem falado, é um dos resultados desse empobrecimento. E o clamor das oposições ignorou os telhados de vidro que também ostentam. Do comportamento de ambos só resultou mais uma acha para a fogueira do descrédito dos políticos e, portanto, o descrédito da democracia..Mesmo quem se arvora de uma matriz liberal não escapa à onda, como se viu nas críticas deste setor a um dos jovens políticos mais inteligentes, cultos e eficazes, refiro-me a Adolfo Mesquita Nunes, por ter aceite um cargo numa empresa privada. Ou seja, quem entra na política fica privado do direito de ter outras aspirações no privado..Advogado
Os regimes democráticos liberais estão a passar por uma fase perigosa que põe em risco a sua competitividade perante regimes de reforçada autoridade, com ou sem legitimação eleitoral. A crise é patente nas democracias mais antigas e aparentemente consolidadas. Da América que elegeu Trump ao Reino Unido cujas instituições no tema do Brexit parecem uma anedota, à França dos coletes amarelos, à fragilidade generalizada dos governos da União Europeia, ao desmoronamento de incipientes democracias na América Latina, por todo o lado medram populismos que destroem a confiança nas instituições democráticas..Será que se mantém atual a crença na célebre máxima de Winston Churchill "A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais"?.Se tivermos em conta apenas os resultados económicos e sociais obtidos por regimes de partido único ou com governos autoritários que desrespeitam princípios fundamentais da democracia e do Estado de direito, a balança começa a pender para estes..Convinha que estas realidades não fossem ignoradas por quem continua a acreditar que a democracia é o único regime que pode contribuir para a felicidade dos seus destinatários. E o que nós, cidadãos, temos feito para preservar a confiança na democracia?.Acho que os políticos, a comunicação social, os Facebooks e C.ª, os comentadores e uma legião de afetados pelo ressentimento e a frustração, todos, temos contribuído para o crescente desprestígio das instituições democráticas. Sob o lema da transparência e do severo escrutínio dos políticos, o voyeurismo, a maledicência, as fake news, tomaram de assalto o espaço público e ninguém escapa incólume a suspeitas, com ou sem fundamento..O efeito deste sistema demolidor de reputações é a rarefação de vocações para o exercício da política. Cada vez menos pessoas com valor e potencial de satisfação em atividades privadas estão dispostas ao sacrifício em que se tornou essa atividade..E quanto mais os políticos vão, em nome da transparência, criando impedimentos, incompatibilidades, restrições ao exercício de outras atividades, mais vão empobrecendo o Parlamento, o governo e a democracia, restringindo o mercado de recrutamento aos boys e girls das juventudes partidárias, sem outras ambições que não o carreirismo político-partidário..O atual governo, na sua dimensão familiar de que agora tanto se tem falado, é um dos resultados desse empobrecimento. E o clamor das oposições ignorou os telhados de vidro que também ostentam. Do comportamento de ambos só resultou mais uma acha para a fogueira do descrédito dos políticos e, portanto, o descrédito da democracia..Mesmo quem se arvora de uma matriz liberal não escapa à onda, como se viu nas críticas deste setor a um dos jovens políticos mais inteligentes, cultos e eficazes, refiro-me a Adolfo Mesquita Nunes, por ter aceite um cargo numa empresa privada. Ou seja, quem entra na política fica privado do direito de ter outras aspirações no privado..Advogado