Áustria vai a eleições este domingo. Quatro desfechos possíveis

Partido Popular Austríaco do ex-chanceler Sebastian Kurz surge como favorito nas eleições legislativas antecipadas deste domingo, na Áustria, mas não deverá conseguir chegar à maioria absoluta
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Sebastian Kurz é o mais provável vencedor das eleições legislativas antecipadas deste domingo na Áustria. O Partido Popular Austríaco (ÖVP), formação do ex-chanceler austríaco, de 33 anos, surge nas sondagens com 34% das intenções de voto. A questão é que isso não chega para a maioria absoluta e o jovem líder vai provavelmente precisar de parceiros de coligação.

O escrutínio foi antecipado depois de o chanceler ter desfeito em maio a coligação com o partido de extrema-direita FPÖ do então vice-chanceler, Heinz Christian Strache chamado, na sequência do chamado caso Ibiza - ou Ibizagate. Este diz respeito à divulgação de um vídeo, gravado em Ibiza no verão de 2017, no qual Strache surgia a prometer favores políticos e contratos públicos a uma suposta milionária russa em troca de doações ilegais para o seu partido. O político austríaco dizia ainda que queria montar um sistema de controlo dos media na Áustria semelhante ao montado por Viktor Orbán na Hungria.

Após a queda do governo de 18 meses, através de uma moção de censura no Parlamento, o presidente Alexander Van der Bellen nomeou como chanceler federal interina a presidente do Tribunal Constitucional Brigitte Bierlein. Nos últimos quatro meses, o tumulto político acalmou, mas o Parlamento não continuou propriamente inativo: aprovou uma série de medidas que muitos interpretaram como ruído de campanha e que incluem a obrigatoriedade de o próximo governo austríaco vetar a ratificação do acordo de comércio entre a UE e o Mercosul no Conselho Europeu.

Na campanha, Kurz declarou, à televisão ORF, que está aberto uma coligação, mas não especificou qual. "Qualquer partido democraticamente eleito pode fazer parte de um governo. A minha opção preferida é formar uma coligação que trabalhe pela Áustria e nos permita continuar o caminho de mudança e fazer as reformas necessárias", afirmou, numa altura em que as sondagens colocam o seu partido na liderança das intenções de voto.

Uma sondagem OMG, feita entre 16 e 23 de setembro, junto de 1006 pessoas, dá 34% ao ÖVP de Kurz, 22% aos sociais-democratas do SPÖ, 20% ao FPÖ, 12% aos Verdes e 8% aos liberais do NEOS. Face a isto, há pelo menos quatro opções de governo se ninguém conseguir - como se prevê - alcançar a maioria absoluta.

Cenário 1 Reedição da coligação ÖVP+FPÖ

Apesar de tudo, leia-se do caso Ibiza, Kurz continua a ser bem visto entre os austríacos. O próprio ex-chanceler quando se demitiu em maio tentou distanciar-se da extrema-direita e dos seus devaneios: "Quando já chega, já chega", declarou aos jornalistas, ao confirmar o fim da aliança com o FPÖ, de Strasche.

Enquanto que em 2017 Kurz cavalgou a onda anti-imigração e conseguiu, com isso, ser eleito, desta vez o tema das migrações esteve menos evidente. O líder do ÖVP antes preferiu focar-se no tema da "identidade", defendendo uma sociedade baseada na "identidade judaico-cristã", nos costumes e nas tradições austríacas, apelando, em particular, ao eleitorado rural.

O FPÖ também tentou fazer uma mudança de imagem substituindo o seu líder. A Strache sucedeu Norbert Hofer. Este foi eleito com 98,25% dos votos e tem uma retórica mais apelativa para os políticos conservadores. O problema numa nova coligação entre ÖVP e FPÖ chama-se Herbert Kickl, nome do ex-ministro do Interior, responsável pelos slogans anti-imigrantes. O presidente Alexander Van der Bellen já indicou que se recusará a dar posse a Kickl se for o caso. E Kurz também não quer ver o ex-ministro sentado num governo que venha a ser liderado por si.

Cenário 2 Uma Grande Coligação

Ao longo dos anos, no pós-II Guerra Mundial, várias vezes a Áustria foi governada em regime de Grande Coligação. Uma segunda hipótese de governo seria uma aliança entre o ÖVP e o SPÖ.

A jogar contra esta solução, o facto de os austríacos estarem um pouco cansados dessa fórmula, mas também o facto de Sebastian Kurz e a líder dos sociais-democratas Pamela Rendi-Wagner não se entenderem a nível pessoal.

A eventual substituição da líder do SPÖ tornaria, em teoria, mais realista a hipótese de uma Grande Coligação.

Cenário 3 Uma coligação ÖVP+Verdes+liberais do NEOS

Outra hipótese, inédita, seria a de uma coligação entre o ÖVP, os Verdes e os liberais do NEOS.

Os Verdes estão em alta por causa da crescente preocupação com as questões do ambiente e do clima. Nas sondagens surgem creditados com 12% das intenções de voto. Se a isso se somar os 8% do NEOS, liberais, Kurz conseguiria provavelmente assegurar uma maioria parlamentar para governar.

No entanto, alertam os especialistas, apesar de uma tal aliança poder ser vista como progressista, seria um risco pois os entendimentos entre um partido de esquerda e dois de centro-direita não seriam fáceis para viabilizar políticas.

Cenário 4 ÖVP governa em minoria com apoios parlamentares

Se nenhuma das anteriores hipóteses de coligação se revelar viável para Kurz, o líder conservador do ÖVP poderia optar por tentar governar em minoria, com apoio parlamentar dos outros partidos, consoante o dossiê em causa. Uma espécie de geringonça, só que pontual, em vez de ser permanente.

Mas dada a variedade de assuntos com que o novo governo vai ter que tratar, não só a nível interno, mas também externo, poderá ser difícil fazer ter que fazer esta ginástica constante em busca de apoios.

Além de ter de contribuir para uma abordagem europeia do problema das migrações, o novo Executivo da Áustria deparar-se-á com decisões sobre temas tão complexos como o Brexit, as alterações climáticas, os acordos e as guerras comerciais. Como cumprir o veto imposto pelo Parlamento ao novo governo sobre o acordo UE-Mercosul será um dos desafios mais imediatos.

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