Todos estamos preocupados com o futuro próximo da economia portuguesa. Esse futuro depende em grande medida das políticas económicas que serão seguidas nos próximos tempos, na Europa e em Portugal, o que acontece frequentemente em momentos de crise e de recuperação económica. Ora, as políticas saem de ideias. Como estamos de ideias, no caso, em Portugal?.Desde o fim da era de Passos Coelho, a política económica por cá seguida tem sido moderada, e relativamente justa do ponto de vista dos equilíbrios sociais. Foi só preciso seguir ideias com décadas de sucesso. Mas foi também preciso uma boa coordenação entre ministros, em particular entre o ministro das Finanças e o primeiro-ministro, e entre este e os partidos que de um modo ou de outro o apoiam. A moderação é um elemento fundamental na condução da política económica, pois só com ela os governos têm tempo para perceber o que é preciso fazer, ouvindo os interlocutores organizados, perto do terreno. O contraste com o radicalismo económico do governo anterior não pode ser esquecido tão cedo. Os governos não devem ser elogiados e por isso fico-me por aqui..Ora, enquanto as coisas corriam mais ou menos bem, fui tentando perceber o que se passava com o principal partido da oposição e que ideias iam surgindo daquela parte. Ao princípio, a preocupação não era muita, pois a população tinha ainda a mente fresca sobre o passado recente, não dando espaço ao retorno das ideias que tanto mal fizeram. Mesmo assim, alguns segmentos dessa oposição não deixaram de tentar recuperar a imagem de Passos Coelho. Foi nessa esteira, recordemos, que surgiram os argumentos de que Costa não tinha virado a página da austeridade, que continuava tudo na mesma e, mais tarde, que o Serviço Nacional de Saúde estava uma desgraça. Esses argumentos seriam os que mais favoreceriam um retorno à situação anterior..Entretanto, o PSD melhorou, trazendo vantagens a todo o país, incluindo no ataque à grave crise de saúde que atravessamos. Tornou-se um partido mais responsável..Mas o barulho de fundo não cessou e foi agora aumentado, transformando-se em avisos de que só se poderá sair da crise económica, que já começou, com nova "austeridade". Para cortar o mal pela raiz, saibamos que ninguém está preocupado com "austeridade", mas sim com "políticas de austeridade", sendo a diferença subtil na forma, mas fundamental no conteúdo. O anúncio de que será preciso "austeridade", e, portanto, que Passos deverá ser ilibado, tem de ser lido como o anúncio de que serão precisas "políticas de austeridade". Ora, isso é, simplesmente, falso. Aliás, como aconteceu no passado recente, essas políticas só agravariam a crise económica, que é, aliás, para isso que elas são desenhadas..Vamos pôr as coisas tão claras quanto possível, para não haver mais confusões e estarmos bem atentos. E insisto neste ponto, pois estas políticas só morrem quando os cidadãos estão alertados para o que elas na verdade são. Em 2011, muitos cidadãos portugueses foram enganados, quando compraram a ideia de que as "políticas de austeridade" seriam necessárias, alguns até acreditando que quanto mais duras fossem, melhor seria. Por alguma ironia do destino - e isso está estudado - Portugal foi dos países da Europa Ocidental onde essa ideia mais terreno ganhou..Ora, "políticas de austeridade" não são políticas de contenção moderada e sustentada do défice público, não são políticas de boa gestão da dívida. São outra coisa. São cortes nas despesas do Estado, de grande dimensão e em curto espaço de tempo, acompanhadas ou não por aumentos substanciais de impostos. E têm em vista dois propósitos claros. O primeiro é o de diminuir a atividade económica dentro do país, para que importe menos e (um dos sonhos) exporte mais, assim diminuído a dependência de financiamento externo. Não é por acaso que o FMI (e, no caso português, o atual Banco de Portugal) seja o principal promotor de tais políticas - mas isso é outro assunto. O segundo propósito é o de diminuir o peso do Estado na economia, de modo a dar lugar (o outro sonho) ao ressurgimento da iniciativa privada, que ocuparia o lugar deixado vago pelo Estado. É simplesmente isto e deve ser bem entendido..Quase todas as pessoas que defenderam essas políticas no tempo de Passos Coelho estão agora fora de cena, por várias razões, desde a credibilidade perdida, ao facto de termos assistido a uma mudança geracional. Mas o que me preocupa muito é que o lugar poderá vir a ser ocupado por uma nova geração que pretenderá ter uma voz à custa de conseguir vender as "políticas de austeridade" a uma população menos esclarecida. Seria bom que essas ideias não encontrassem chão fértil, pois esse seria o primeiro passo para o regresso ao passado..Investigador da Universidade de Lisboa (pedrolains.typepad.com)
Todos estamos preocupados com o futuro próximo da economia portuguesa. Esse futuro depende em grande medida das políticas económicas que serão seguidas nos próximos tempos, na Europa e em Portugal, o que acontece frequentemente em momentos de crise e de recuperação económica. Ora, as políticas saem de ideias. Como estamos de ideias, no caso, em Portugal?.Desde o fim da era de Passos Coelho, a política económica por cá seguida tem sido moderada, e relativamente justa do ponto de vista dos equilíbrios sociais. Foi só preciso seguir ideias com décadas de sucesso. Mas foi também preciso uma boa coordenação entre ministros, em particular entre o ministro das Finanças e o primeiro-ministro, e entre este e os partidos que de um modo ou de outro o apoiam. A moderação é um elemento fundamental na condução da política económica, pois só com ela os governos têm tempo para perceber o que é preciso fazer, ouvindo os interlocutores organizados, perto do terreno. O contraste com o radicalismo económico do governo anterior não pode ser esquecido tão cedo. Os governos não devem ser elogiados e por isso fico-me por aqui..Ora, enquanto as coisas corriam mais ou menos bem, fui tentando perceber o que se passava com o principal partido da oposição e que ideias iam surgindo daquela parte. Ao princípio, a preocupação não era muita, pois a população tinha ainda a mente fresca sobre o passado recente, não dando espaço ao retorno das ideias que tanto mal fizeram. Mesmo assim, alguns segmentos dessa oposição não deixaram de tentar recuperar a imagem de Passos Coelho. Foi nessa esteira, recordemos, que surgiram os argumentos de que Costa não tinha virado a página da austeridade, que continuava tudo na mesma e, mais tarde, que o Serviço Nacional de Saúde estava uma desgraça. Esses argumentos seriam os que mais favoreceriam um retorno à situação anterior..Entretanto, o PSD melhorou, trazendo vantagens a todo o país, incluindo no ataque à grave crise de saúde que atravessamos. Tornou-se um partido mais responsável..Mas o barulho de fundo não cessou e foi agora aumentado, transformando-se em avisos de que só se poderá sair da crise económica, que já começou, com nova "austeridade". Para cortar o mal pela raiz, saibamos que ninguém está preocupado com "austeridade", mas sim com "políticas de austeridade", sendo a diferença subtil na forma, mas fundamental no conteúdo. O anúncio de que será preciso "austeridade", e, portanto, que Passos deverá ser ilibado, tem de ser lido como o anúncio de que serão precisas "políticas de austeridade". Ora, isso é, simplesmente, falso. Aliás, como aconteceu no passado recente, essas políticas só agravariam a crise económica, que é, aliás, para isso que elas são desenhadas..Vamos pôr as coisas tão claras quanto possível, para não haver mais confusões e estarmos bem atentos. E insisto neste ponto, pois estas políticas só morrem quando os cidadãos estão alertados para o que elas na verdade são. Em 2011, muitos cidadãos portugueses foram enganados, quando compraram a ideia de que as "políticas de austeridade" seriam necessárias, alguns até acreditando que quanto mais duras fossem, melhor seria. Por alguma ironia do destino - e isso está estudado - Portugal foi dos países da Europa Ocidental onde essa ideia mais terreno ganhou..Ora, "políticas de austeridade" não são políticas de contenção moderada e sustentada do défice público, não são políticas de boa gestão da dívida. São outra coisa. São cortes nas despesas do Estado, de grande dimensão e em curto espaço de tempo, acompanhadas ou não por aumentos substanciais de impostos. E têm em vista dois propósitos claros. O primeiro é o de diminuir a atividade económica dentro do país, para que importe menos e (um dos sonhos) exporte mais, assim diminuído a dependência de financiamento externo. Não é por acaso que o FMI (e, no caso português, o atual Banco de Portugal) seja o principal promotor de tais políticas - mas isso é outro assunto. O segundo propósito é o de diminuir o peso do Estado na economia, de modo a dar lugar (o outro sonho) ao ressurgimento da iniciativa privada, que ocuparia o lugar deixado vago pelo Estado. É simplesmente isto e deve ser bem entendido..Quase todas as pessoas que defenderam essas políticas no tempo de Passos Coelho estão agora fora de cena, por várias razões, desde a credibilidade perdida, ao facto de termos assistido a uma mudança geracional. Mas o que me preocupa muito é que o lugar poderá vir a ser ocupado por uma nova geração que pretenderá ter uma voz à custa de conseguir vender as "políticas de austeridade" a uma população menos esclarecida. Seria bom que essas ideias não encontrassem chão fértil, pois esse seria o primeiro passo para o regresso ao passado..Investigador da Universidade de Lisboa (pedrolains.typepad.com)