Auschwitz recordado para alertar o mundo
Os líderes mundiais estão hoje reunidos em Auschwitz, na Polónia, para comemorar os 60 anos da libertação do maior campo de concentração nazi pelo Exército Vermelho soviético. Dirigentes de 44 países, entre os quais os presidentes alemão, Horst Kohler, e russo, Vladimir Putin, estarão lado a lado com sobreviventes e os homens que os libertaram em 1945.
Estas cerimónias dão início a um ano de comemorações que se revestem de significado especial por constituírem uma das últimas oportunidades para reunir os escassos sobreviventes ainda vivos.
Apesar das temperaturas negativas, mais de 10 mil pessoas assistirão aos discursos de detidos no campo de concentração, como o ex--chefe da diplomacia polaco Wladyslaw Bartoszewski. O Chefe do Estado polaco, Aleksander Kwasniewski, também irá discursar, bem como Putin, que falará em nome dos libertadores, e o seu homólogo israelita, Moshe Katzav, em representação das vítimas.
Ontem, Katzav apelou aos dirigentes europeus para evitarem "o ressurgimento do anti-semitismo". Recentes episódios, como o disfarce de nazi do príncipe Harry de Inglaterra numa festa ou a saída dos deputados de extrema-direita do Parlamento da Saxónia enquanto se cumpria um minuto de silêncio em memória das vítimas do Holocausto, fazem temer um regresso de incidentes anti-semitas.
Em Oswiecim (nome polaco para Auschwitz), estarão também presentes outros chefes de Estado, como o francês Jacques Chirac, vários chefes de Governo, entre os quais o italiano Silvio Berlusconi, e os presidentes da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do Parlamento Europeu, Joseph Borell.
Os EUA far-se-ão representar pelo vice-presidente, Dick Cheney, que lembrou ontem, na Polónia, que cada geração tem o "dever de lutar contra a tirania". A decisão do Presidente Bush de não comparecer em Auschwitz criou desconforto entre as autoridades polacas. A Administração norte-americana minimizou a decisão e garantiu que Bush enviou "um dos seus mais próximos colaboradores".
Uma das presenças mais aguardadas era a do Presidente ucraniano, Viktor Iuchtchenko, recém- -eleito. O Chefe do Estado recordou ontem o seu pai, Andriy, soldado do Exército Vermelho que permaneceu em Auschwitz como prisioneiros de guerra e sobreviveu.
As comemorações têm início com o fórum internacional "Let my People Live" (Deixem o meu Povo Viver), em Cracóvia, a 60 quilómetros do campo. A cerimónia principal decorrerá no memorial internacional em Birkenau, a três quilómetros de Auschwitz, conhecido como a "oficina da morte".
Ontem as comemorações iniciaram-se com uma cerimónia multirreligiosa celebrada na Igreja de São Maximilian Kolbe (padre polaco morto em Auschwitz), em Haremze. O dia foi também marcado por protestos em Birkenau, onde cinco rabinos se manifestaram contra a presença de um igreja católica frente ao campo de concentração, e em Cracóvia, onde uma centena de anarquistas protestaram contra a presença de Vladimir Putin, que responsabilizam pe- lo "genocídio" dos chechenos.
morte. Em 1940, o exército alemão transformou Auschwitz num campo de trabalhos para presos de guerra polacos, mas os nazis rapidamente aumentaram as instalações, tornando-as num vasto campo de morte. O complexo concentracionário tinha três campos principais. Até Janeiro de 1945, entre 1,2 e 1,5 milhões de pessoas morreram em Auschwitz. Cerca de um milhão eram judeus, mas estes não foram as únicas vítimas. Presos polacos, prisioneiros de guerra soviéticos, ciganos, deficientes, homossexuais e prisioneiros de consciência também foram mortos nas câmaras de gás nazis.
O exército soviético chegou ao campo a 27 de Janeiro de 1945, libertando cerca de sete mil prisioneiros, sobretudo mulheres e crianças. Perante o avanço soviético, os nazis haviam morto muitos presos e obrigado 58 mil a abandonar o campo e andar durante dias à neve e ao frio. Mais de 15 mil morreram nessa "Marcha da Morte".