Ainda há poucos anos, a possibilidade de um carro a gasóleo triunfar numa prova como as 24 Horas de Le Mans provocaria um ataque de riso em qualquer adepto do desporto automóvel. Ontem, no circuito de La Sathe, na 74.ª edição da mítica prova de resistência, assinalando igualmente o 100.º aniversário do organizador Automobile Club de L'Ouest, um tabu caiu por terra..Às 16 horas o Audi R10, tripulado pelo italiano Emanuele Pirro - em equipa com os alemães Frank Biela e Marco Werner - abriu um novo capítulo da história da competição automóvel batendo, com um carro a diesel, uma concorrência "clássica", que esperava o fracasso da equipa dos quatro anéis, dada a juventude do projecto..A Audi confirmou o domínio ao colocar o segundo R10 diesel - tripulado por Tom Kristensen, Allan McNish e Rinaldo Capello - no terceiro lugar do pódio, deixando a segunda posição em aberto para uma "semi-surpresa", pois quem cortou a meta a quatro voltas de Emanuele Pirro foi o bicampeão do mundo de Ralis, Sébastien Loeb, ao volante de um Pescarolo-Judd C60. .Tal como no ano passado, Loeb aproveitou um pequeno intervalo no Mundial para participar na mítica prova de resistência, ao lado dos seus compatriotas gauleses Franck Montagny e Eric Hélari. Só que... este ano correu melhor. "As duas última duas voltas à pista, com os comissários a agitarem as bandeiras, foram uma loucura. Mas estou bastante mais cansado do que tivesse disputado um rali", confessou Loeb. .Já Emanuele Pirro confessava, do alto do pódio: "Durante a última volta comecei a ouvir toda a espécie de barulhos (no carro), mas sobretudo uma vozinha que me dizia... está feito". Somando a quarta vitória em Le Mans, o italiano acreditava mesmo ter dado um passo importante para a mudança de mentalidades: "A partir de agora, todas as pessoas que parem numa estação de serviço para atestar de gasóleo, poderão sentir-se orgulhosas." De facto, mesmo após uma primeira experiência bem sucedida, em Seabring, o triunfo de um diesel em Le Mans será sempre um feito extraordinário, tão extraordinário como todo o trabalho de adaptação do bloco V12, de 5.5 litros bi-turbo, com mais de 650 cv, ao chassis do anterior - e bem sucedido - R8 a gasolina..Menos sorte, apesar de ter estado brilhante na parte inicial, teve o português Pedro Lamy, tal como no ano passado traído pela mecânica do Aston Martin DBR9. Lamy - em parceria com os franceses Stéphane Sarrazin e Stéphane Ortelli teve um início de prova bem ao seu jeito levando o carro para o quarto posto geral e impondo uma sólida liderança na Classe GT1, situação que se mantinha depois de 12 horas de corrida, em que registava um avanço de quase uma volta para o rival e mais directo concorrente, o Corvette C6R de Olivier Gavin, Olivier Beretta e Jan Magnussen - que acabaria por herdar a posição do português. "Dispúnhamos de uma boa vantagem quando, após o Ortelli ter iniciado mais um turno a embraiagem do carro cedeu", explicou Lamy, justificando os 45 minutos que a equipa perdeu nas boxes. Sarrazin acabaria por cortar a meta na 10.ª posição geral, quinta da categoria, mas Pedro Lamy ficou com a certeza: "Se não fosse este problema teríamos certamente vencido a classe.".Participação muito positiva acabou por ter João Barbosa, outro português em prova. Partilhando o Radical- Judd SR9 com os britânicos Martin Short e Stuart Moseley, Barbosa cortou a meta na 20.ª posição geral, correspondente ao quinto lugar da Classe LMP2. Na mesma categoria, Miguel Pais do Amaral - com Miguel Castro e Warren Hughes - não conseguiu levar o Lola AER B05 até ao final.