Atrasos e suspeitas no dia em que Dhlakama foi observador
Depois das 18:00 locais (17:00 em Portugal), hora prevista do fecho das urnas, havia relatos de longas filas em assembleias de voto, que se mantiveram abertas até que ao, abrigo da eleitoral, o último cidadão votasse.
A meio da manhã, dezenas de postos de votação no centro e norte do país permaneciam encerradas, devido à ausência dos membros das mesas ou erros dos cadernos eleitorais.
Mas, no final, segundo o porta-voz da Comissão Nacional das Eleições, Paulo Cuinica, todas as mesas abriram e o processo correu bem, "tirando um incidente aqui e acolá".
O dia confirmou as suspeitas levantas de véspera pelos principais partidos de oposição de que muitos dos seus membros nas mesas de voto, previstos na lei eleitoral recentemente aprovada, não conseguiram as suas credenciais.
A dimensão destas ausências nas 17.199 mesas do país, e que o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) atribui a atrasos dos próprios partidos, era ao final do dia desconhecida, do mesmo modo que se ignora o valor da participação nas eleições que vão determinar a escolha do próximo Presidente da República, dos 250 deputados no parlamento e dos 811 membros das assembleias provinciais.
Segundo o Observatório Eleitoral, a maior organização de observação presente nas eleições, até às 14:30 apenas 34% dos recenseados tinham votado em 778 mesas de voto verificadas.
Este dado contrasta com a perceção de uma elevada participação, assente em longas filas em muitos pontos do país, mas que podem ser também explicadas pela lentidão e desorganização em várias assembleias de voto.
Ao longo do dia chegaram relatos de diversos incidentes e suspeitas de fraude. Na Beira um homem não credenciado pelas autoridades eleitorais foi preso quando tentava transportar seis urnas com boletins para um posto de votação.
Em Nampula um outro foi apanhado a tentar introduzir votos previamente preenchidos a favor do candidato presidencial da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) mas conseguiu fugir.
E em Tsangano, província de Tete, o boletim do Centro de Integridade Pública e a Associação dos parlamentares Europeus para África, que conta com uma rede de 150 jornalistas, revelou que membros da Renamo suspeitaram da prática do chamado "enchimento" prévio de urnas e queimaram o material eleitoral, seguindo-se confrontos com a polícia.
Logo ao início da manhã, os três candidatos presidenciais dirigiram apelos para um processo ordeiro, mas tanto Afonso Dhlkama, presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) como Daviz Simango, líder do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), deixaram avisos para a suspeita de fraudes.
Dhlakama, que votou no início da manhã em Maputo, meia hora antes e no mesmo local do seu adversário da Frelimo, Filipe Nyusi, prometeu aliás ser ele próprio um observador e voltar à Escola Secundária da Polana para vigiar o processo eleitoral.
E cumpriu. A meio da tarde a Lusa encontrou-o no mesmo local, sereno, reiterando a confiança na sua vitória após umas eleições que avaliava como positivas: "Em geral estão a correr bem, senão estaríamos a gritar", afirmou,
A forma como Frelimo e Renamo - duas partes de um conflito militar durante 17 meses na região centro do país antes das eleições - vão reagir aos resultados é um dos potenciais focos de instabilidade no futuro próximo em Moçambique.
"Tanto de um lado como de outro [Renamo e Frelimo], se não acontecer o que está nas suas expectativas, poderá haver alguma perturbação", alertou hoje à Lusa o académico Lourenço do Rosário, um dos mediadores do processo de paz finalizado a 05 de setembro. O país, disse, votou com "o coração nas mãos".