Atraso na cobrança de carregamentos elétricos custa 29 mil euros por mês aos contribuintes
O prazo para o início do pagamento dos carregamentos rápidos em 60 postos da rede Mobi.E derrapou mais uma vez - deveria ter começado finalmente a 1 de julho, depois de sucessivos atrasos - o que significa que continuam a ser os operadores responsáveis pelos mesmos a suportar o encargo com a eletricidade consumida.
Fontes de várias empresas ouvidas pelo Dinheiro Vivo, reportam prejuízos com este novo atraso da entrada em regime de mercado. No entanto, a "fatia de leão" diz respeito ao valor pago pela Mobi.E (ou seja pelo Estado) face aos restantes 400 postos de carregamento normal: uma fatura mensal que neste momento ascende já a 29 mil euros por mês. E com perspetivas de novos aumentos ao longo dos próximos seis meses, em função do preço da eletricidade e do aumento do número de carregamento e de carros elétricos a circular nas estradas portuguesas.
O valor foi revelado ao Dinheiro Vivo por fonte conhecedora do processo, de acordo com a qual a conta paga pela Mobi.E já sofreu uma subida na ordem dos 4000 euros mensais desde meados de 2017.
Números da Mobi.E mostram que no primeiro semestre de 2018 foram registados 223 000 carregamentos (mais 150% face ao período homólogo) na rede Mobi.E, que dizem respeito a 2,3 GWh (mais 206%). Na totalidade do ano passado foram 229 000 carregamentos e 2,1 Gwh.
Outra fonte, próxima da Mobi.E, revelou ainda que os carregamentos rápidos (80% da bateria em meia hora) vão começar a ser pagos pelos proprietários dos carros elétricos ainda durante o terceiro trimestre (até outubro), enquanto os carregamentos normais só deverão ficar a cargo dos consumidores "no início de 2019".
A Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos já fez saber que espera novidades para "este verão". "Vamos começar a pagar a rede de carregamento rápido", admitiram.
Para já, dizem fontes do setor da energia ouvidas pelo Dinheiro Vivo, este processo está do lado da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), cabendo ao regulador chegar a acordo com a Mobi.E , depois de uma reunião que teve lugar na semana passada, sobre se a conta da mobilidade incluirá ou não a contribuição para o audiovisual (2,85 euros por mês, sem IVA) paga à RTP, por exemplo, entre outras parcelas que poderão sobrecarregar os preços.
Contactada pelo Dinheiro Vivo, fonte oficial da EDP diz que "a definição do calendário relativo ao início da cobrança dos carregamentos é da responsabilidade da Mobi.E" e que "o modelo requer que a contratualização entre agentes esteja totalmente definida, conceitos a cobrar, bem como testes de operacionalização da plataforma".
A EDP não regista "perdas significativas" mas avisa que "a ausência de cobrança dos carregamentos em Portugal tem consequências para o desenvolvimento da mobilidade elétrica, dissuadindo o investimento dos operadores em infraestrutura".
Até agora, e desde abril de 2017, o fornecimento de energia elétrica à rede da Mobi.e cabia à ENAT Energias, tendo a Galp anunciado na semana passada que vai passar a ser a fornecedora exclusiva de eletricidade nos pontos de carregamento da rede pública de mobilidade elétrica da Mobi.E, que integra cerca de 1000 tomadas. Ou seja, a partir de agora será a Galp a cobrar à Mobi.E os cerca de 29 mil euros, ou mais, por mês.
"A energia elétrica fornecida pela Galp será utilizada no carregamento dos veículos elétricos nos pontos de carregamento normais da rede pública de mobilidade elétrica [...], durante a fase que antecede a abertura de mercado", informou a empresa em comunicado, acrescentando: "Atualmente os utilizadores de veículos elétricos carregam gratuitamente os seus veículos nos pontos de carregamento da rede pública de mobilidade elétrica. O arranque da fase de mercado que estava previsto para junho de 2018 foi entretanto adiado, prevendo-se agora que ocorra neste terceiro trimestre".
A partir desse momento, explica ainda a Galp, os utilizadores de veículos elétricos terão de estabelecer um contrato com uma Comercializadora de Energia para a Mobilidade Elétrica (CEME) - como por exemplo a Galp Power, a EDP Comercial ou a Prio, entre outras -, e passarão a pagar a eletricidade com que abastecem os seus veículos na rede pública.
De acordo com a ACAP, nos primeiros seis meses do ano foram vendidos 1868 automóveis movidos só com baterias elétricas, mais do dobro (156,2%) do que no período homólogo.
Quanto às razões para os sucessivos atrasos na cobrança dos carregamentos elétricos, a Mobi.e justifica que "há trabalhos ainda serem feitos" e só quando todos os stakeholders se sentirem prontos, se avançará para a fase de mercado, já que a empresa tem todo o "interesse em que a mobilidade elétrica funcione da melhor forma". Além disso, está também a decorrer um projeto de atualização tecnológica em 304 postos da rede de carregamentos, a cargo da Efacec (por 570 mil euros) que deverá ficar concluído também até outubro.