Quando os faróis da carrinha iluminaram a placa à beira da estrada, entendi que estávamos no bom caminho. À segunda tentativa, o motorista Nagy acertara com a longa pista de asfalto que nos separava do oásis de Siwa e pudera ler a inscrição em inglês a confirmá-lo. .Preferiria ter feito os 280 quilómetros que ainda faltavam durante o dia, para poder ver o deserto que separava este pedaço de paraíso da costa mediterrânica, mas tal não fora possível devido à distância que «crescia» a cada centena de quilómetros percorridos. .Siwa fica a pouca distância da Líbia e a muita do Cairo. Ali no centro do deserto que se estende para além da margem esquerda do rio Nilo, a perder de vista de qualquer lugar habitado. .Mesmo assim nunca fora um local ignorado e, ainda no século passado, os vários exércitos que travaram as duas guerras mundiais por aí passaram e combateram um com o outro pela posse deste palmeiral, encravado no meio de areia pedregosa e a perder de vista..Antes dos ingleses, alemães e italianos aí deixarem recordações e terem mudado o curso da história local, duas expedições enfrentaram o deserto para chegar ao mesmo local, o Oráculo de Amoun. .Primeiro, o exército de cinquenta mil homens que Cambises enviou para destruir o local devido às premonições indesejadas, e que sucumbiu debaixo de tempestades de areia, sem deixar rasto. .Posteriormente, Alexandre, oGrande, que foi ao mesmo local sagrado e obteve as respostas que tanto ansiava, livrando-se de todas as maldições do deserto com a ajuda de dois corvos que o guiaram por entre tempestades e miragens. Algum tempo depois morreu, sem nunca revelar as palavras sobre o futuro. .Desta vez, o viajante só tinha como certo uma estreita faixa preta iluminada pela Lua em quarto crescente e umas quantas placas a mostrarem que a distância para Siwa ia mesmo diminuindo. A inscrição aparecia excepcionalmente inteligível quando só costuma ser em egípcio. Era um bom sinal, quase tão inspirador como aqueles que guiaram há dois mil anos o grande conquistador pelo deserto..E pensar que até 1986 o oásis estava isolado por 300 e tal quilómetros de areia da localidade mais próxima... Que havia habitantes que nunca viram o mar e só imaginavam o aspecto das cidades pelos relatos dos beduínos que atravessavam o deserto em caravanas... .O VIAJANTE OCIDENTAL regressa no domingo 26 de Dezembro.