Ativistas dos direitos humanos duvidam da confissão de livreiro

Gui Minhai, um dos livreiros desaparecidos, afirmou que está detido porque atropelou uma pessoa em 2004
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Ativistas defensores dos direitos humanos disseram hoje duvidar da veracidade da aparente confissão de um dos livreiros desaparecidos de Hong Kong que disse ter-se entregado à justiça chinesa por ter atropelado mortalmente uma pessoa em 2004.

Gui Minhai, que tem nacionalidade chinesa e sueca, apareceu no domingo num vídeo divulgado pela televisão chinesa em que diz ter voltado à China para ser julgado, afirma que quer ser punido e pede à Suécia para não intervir.

O diretor da Amnistia Internacional na região, Nicholas Bequelin, afirmou hoje que o vídeo transmitido na televisão chinesa levanta mais questões do que dá respostas.

"Do ponto de vista legal, o vídeo não vale nada", disse Nicholas Bequelin à AFP. "Onde é que ele está? Sob que autoridade é que ele foi detido? Quais são as circunstâncias em que deu esta entrevista? Não podemos excluir a possibilidade de que fez esta declaração sob coação", acrescentou.

Também Lee Cheuk-yan, deputado pró-democracia de Hong Kong, já considerou, a propósito da aparente confissão de Gui, que a China está a "tentar esconder o facto de que o detiveram por causa da livraria", onde vende livros críticos de Pequim e proibidos na China.

"O acidente de carro [de 2004] não tem nada a ver com isto e não há nada no vídeo que diga como é que ele foi parar à China", afirmou.

Depois da alegada confissão de Gui Minhai, um site de notícias de Hong Kong divulgou uma carta alegadamente escrita por Lee Bo, outro livreiro desaparecido, em que este referia a "história complexa de Gui".

"Ele matou uma pessoa num acidente de carro, embriagado, e irresponsavelmente fugiu para o estrangeiro", lê-se no texto publicado no Headline Daily. "Desta vez, ele implicou-me", acrescenta o texto, sem mais detalhes.

Gui Minhai, editor e dono da livraria Causeway Bay, diz no vídeo que conduzia embriagado quando ocorreu o atropelamento mortal, em 2004.

"Tinha medo de ser preso, sabia que não tinha futuro no meu país e decidi escapar", disse, por outro lado, à agência oficial chinesa Xinhua, a partir de um centro de detenção na China.

O desaparecimento de Gui Minhai foi tornado público a 05 de novembro passado pelo gerente da livraria Causeway Bay, Lee Bo, que depois também desapareceu, no dia 01 de janeiro.

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Supunha-se que Gui tinha viajado de férias para a cidade tailandesa de Pattaya, a partir de onde se perdeu o seu rasto.

Três outros associados de Gui e Lee (Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) desapareceram também depois de terem visitado, separadamente, o interior da China.

A suspeita de que os cinco livreiros foram detidos por homens ao serviço das autoridades chinesas desencadeou uma onda de revolta e preocupação em Hong Kong, por constituir uma flagrante violação do princípio "Um país, dois sistemas".

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De acordo com aquela fórmula, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam em Hong Kong e Macau, (exceto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência do governo central chinês) e os dois territórios gozam de "um alto grau de autonomia".

A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras críticas do regime comunista, proibidas no interior da China.

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