Atitudes de jovens noctívagos mudaram do dia para a noite

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Assaltos. Agressões. Violência gratuita. Copos. Sexo. Drogas. E muito pouco rock'n'roll. São assim as noites hoje vividas na capital, longe dos brandos costumes de outrora. Exagero? Vejamos. Quando a movida se instalou em Lisboa, nos finais dos anos 70, os percursos da noite alfacinha eram escassos e tranquilos. Abertos os apetites para uma saída, nada nem ninguém conseguia demover essa vontade de animação. Uma animação pautada essencialmente pelo espírito de divertimento, de ir beber uns copos, estar com os amigos, dois dedos de conversa, um salto até à pista de dança, ver como paravam os gostos e estilos, como se comportavam as gentes da moda e na moda.

Respiravam-se ambientes com o glamour próprio da época - o despertar das noites. E tão conhecidas ficaram que até nuestros vizinhos espanhóis deslocavam-se até cá, prontos, também eles, a saborear os encantos de Lisboa.

Inicialmente centralizada nas zonas do Bairro Alto, Santos e Príncipe Real, e, posteriormente, estendida a Alcântara, Docas e 24 de Julho, a movida permitia fazer perfeitos traçados das horas, que se espraiavam pela madrugada. Tudo começava ao jantar, tendo ficado famosas as refeições no Bota Alta, ao Bairro Alto. A este acrescentavam-se A Baiúca, Tasca do Manel, Alfaia, 1.º Maio e, mais tarde, o Pap'Açorda.

Se Os Três Pastorinhos, o Procópio ou o Snob faziam as delícias como prefácios das discotecas, o Frágil, Trumps, Ad-Lib, Stones, Bric-a-Bar, Finalmente, Whisper's e Alcântara-Mar eram insuficientes para acolher tanta clientela mordida pelo desejo de terminar a noite em Beleza. Muitos dos caminhos faziam-se a pé. Ao contrário do que hoje acontece, passear no Jardim do Príncipe Real não constituía o menor perigo, podendo o mesmo dizer-se quanto a outros locais hoje impensáveis em percorrer. E, afinal, são os mesmos. O que mudou foram as atmosferas pesadas neles vividas, marcadas por exageros e alucinações, a par de desacatos, insubordinações, ruído, poluições, roubos e vigarices.

De facto, os tempos são outros. As ruas e travessas deram lugar a bares ao relento, onde tudo se vende e consome. As necessidades são feitas na via pública. Não há respeito. Não há tranquilidade. Não há divertimento nem festa. As horas passam de forma impessoal, angustiada, como se nada de melhor houvesse para fazer. Quão enganados estão! A movida mudou do dia para a noite. E promete transformar-se num ritual cada vez mais surrealista. Dirão que é a mudança dos tempos. Cá para mim, é sinal claro de estupidez. Acreditem.

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