Atenas envia navio de guerra para tirar 500 refugiados do frio das tendas

Bruxelas considerou situação "insustentável". Baixas temperaturas afetam ainda migrantes na fronteira entre Sérvia e Hungria
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As condições de vida no campo de refugiados de Moria, o maior da ilha grega de Lesbos, já eram difíceis por causa da sobrelotação - são 4600 pessoas num espaço desenhado para 1300. A neve que caiu nos últimos dias veio apenas piorar a situação, com muitos dos requerentes de asilo e migrantes a terem de enfrentar as temperaturas negativas em simples tendas. A situação foi denunciada pelas organizações internacionais e considerada "insustentável" por uma porta-voz da Comissão Europeia. Ontem, o governo grego - responsável pela gestão do campo - anunciou que chega hoje à ilha o navio de guerra Lesbos, que tem capacidade para acolher 500 dos mil refugiados que ainda vivem em tendas neste campo.

"Moria não presta, Moria não presta", diz um homem num vídeo divulgado pelo site grego Greek Reporter, onde se veem as tendas do campo quase transformadas em iglus por causa do peso da neve. "Hoje, as pessoas estão desprovidas de assistência adequada e isso está a colocar as suas vidas em perigo. Estamos a assistir à consequência mais cruel e desumana das políticas europeias, utilizadas como instrumento para dissuadir e vitimizar aqueles que só procuram segurança e proteção na Europa", disse Stefano Argenziano, coordenador de operações de migração dos Médicos sem Fronteiras (MSF), citado no site da organização.

Na segunda-feira, a porta-voz da Comissão Europeia, Natasha Bertaud, descreveu a situação na Grécia como "insustentável", referindo que Bruxelas está preparada para ajudar o governo grego. Contudo, reforçou a ideia de que é de Atenas a responsabilidade de garantir as condições nos campos. Em resposta às críticas internacionais mas também nacionais, com alguns deputados da oposição a questionarem como foi usado o dinheiro europeu destinado a preparar os campos para o inverno, o governo grego anunciou ontem o envio do navio de guerra para Lesbos. Além dessa medida, junto com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), as pessoas mais vulneráveis estão a ser colocadas em hotéis e noutros alojamentos.

Mais de 60 mil refugiados e migrantes ficaram presos na Grécia depois de os países dos Balcãs terem encerrado as fronteiras em março, cortando o caminho aos que procuravam chegar ao centro da Europa. A situação é ainda pior nas ilhas, onde milhares de migrantes e requerentes de asilo aguardam que o seu processo avance.

"Parece que para a Comissão Europeia todas as estradas para os refugiados vão dar à Grécia. É totalmente hipócrita da parte da Comissão Europeia insinuar que só a Grécia é responsável pelas más condições, quando a sobrelotação e o clima de insegurança nas ilhas gregas é causado pelo acordo entre a União Europeia e a Turquia e agravado pela falta de solidariedade de outros países europeus para receber as pessoas", disse também num comunicado Iverna McGowan, diretora do gabinete europeu da Amnistia Internacional.

Vinte pessoas por dia

Não é só na Grécia que os migrantes e refugiados estão a sofrer com a vaga de frio que está a atingir grande parte da Europa. Cerca de sete mil pessoas oriundas da Ásia e do Médio Oriente aguardam na fronteira sérvia a sua oportunidade para entrar na Hungria - enfrentando nestes dias temperaturas que chegam aos 20 graus negativos. Apenas vinte pessoas por dia recebem autorização para entrar no país nos dois postos fronteiriço oficiais, com o primeiro-ministro Viktor Orban a deixar claro que os migrantes não são bem-vindos.

Entretanto, os campos de refugiados estão cheios e só as mulheres e crianças são autorizadas a entrar, deixando os homens a procurar abrigo onde puderem. Muitos vivem em tendas improvisadas. Cerca de 1500 ocuparam armazéns abandonados nos arredores de Belgrado, segundo a Reuters. Num deles, centenas de homens (a maioria afegãos) dormem no chão de cimento, aquecendo-se queimando lixo de plástico que liberta um espesso fumo negro. "Está tanto, mas tanto frio que precisamos destes fogos", afirmou Salim Shinuari, de 22 anos. "Os trabalhadores humanitários dão-nos comida, mas está muito frio aqui", acrescentou. Outro migrante conta que duas a três vezes por semana os homens tentam cruzar ilegalmente a fronteira (uma das fronteiras externas da UE) - que foi reforçada com arame farpado e é patrulhada por milhares de polícias e soldados.

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