"Até parece", nova produção da Companhia Mascarenhas-Martins estreia-se sábado

Lisboa, 10 mai 2019 (Lusa) -- A impossibilidade de se estar bem sentado e de questionar a apatia e o mal-estar que atravessa uma certa geração da atualidade são temas da peça "Até parece", que a Companhia Mascarenhas-Martins estreia no sábado, no Montijo.
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Quatro situações, que às vezes se tocam "ao de leve", outras vezes, de forma "mais óbvia", de "coisas um bocado absurdas", compõem a peça, a primeira escrita pelo jornalista Miguel Branco, onde não falta "ironia e o sarcasmo", disse o próprio à agência Lusa.

É assim que "Até parece" tem "gente viciada em leite, gente viciada em vinagre e dois irmãos milionários que estão num ´resort´ de luxo na lua que disserta sobre a condição de ali estarem depois de na terra terem despedido não sei quantas pessoas", exemplificou Miguel Branco.

A peça resulta de um convite que Levi Martins, codiretor, juntamente com Maria Mascarenhas, da companhia com o sobrenome de ambos, lançou a Miguel Branco, no verão de 2018, no sentido de que o jornalista "se aproximasse de uma criação da companhia".

Amigo de Levi Martins desde que este integrara a equipa de comunicação da Companhia de Teatro de Almada e conhecedor do processo de trabalho da companhia que fundara no Montijo, Miguel Branco decidiu "aceitar o convite sem saber bem no que ia dar", precisou à Lusa.

E foi assim que, a partir de setembro de 2018, começaram por se reunir, primeiro uma vez por mês, em torno do debate e da discussão sobre "a ideia de crise".

"[Os encontros] foram-se adensando e foi a partir deles que, talvez influenciado pelos feitios das pessoas, pelos seus hábitos alimentares, ou por outras situações, fui escrevendo o que acabou por resultar numa série de pequenos diálogos", sublinhou o jornalista.

Foi da partilha, do estar com aquelas pessoas, e de debater ou discutir ideias com elas que acabou por sair este texto, "Até parece", a que Miguel Branco não gosta de chamar peça.

"Uma peça já com narrativa, essa sim, está escrita e contamos que venha a ser representada pela Companhia Mascarenhas-Martins, em 2020, caso haja condições financeiras para tal", mas haverá uma segunda peça para o ano, disse o jornalista, sem adiantar mais pormenores.

Questionado sobre o que o aliciou na escrita para teatro, Miguel Branco disse tratar-se de um registo ao qual sempre teve vontade de se aproximar.

"Até porque é mais livre do que a do jornalismo, já que não tenho de ter x parágrafos ou x carateres; além de sentir que posso dizer coisas que não posso dizer no jornalismo sem ser por comparações", frisou.

"Aqui há mais liberdade para meter palavras na boca dos atores", indicou o jornalista, de 27 anos e com sete de profissão, que também não esconde "ter um certo desencantamento com um jornalismo dos dias de hoje".

A escrita dramática têm-lhe dado "uma liberdade de discurso" em questões que considera que devem ser pensadas e referidas, além de ter encontrado naquela companhia de "gente jovem" um grupo de pessoas que aceitou muito bem as suas "loucuras".

"Porque isto foi tudo menos escrever um texto por encomenda. O trabalho surgiu da partilha, da troca de ideias, do debate, da discussão e foi através dele que se provocou na minha vida uma certa entrada a vida artística. Mas sempre num trabalho partilhado com todo o grupo", frisou.

No fundo, "o que estamos a fazer é a levantar questões sobre o mundo em que estamos, a tentar perceber o que é isto, porque vamos sempre aos mesmos sítios, ver os mesmos filmes e os mesmos artistas", acrescentou.

Porque, se por um lado, as artes performativas "estão a passar um momento interessante, com muita gente jovem que quer dizer coisas novas e tem coisas importantes para dizer, por outro, "parece que [se está] condenado a este universo em que não [se pode] dizer nada", adiantou.

E o teatro "é um lugar onde nos podemos sentar, porque é um lugar que parece meio leve, mas que permite dizer coisas às pessoas, ainda que depois sejamos confrontados com a 'voragem' das programações que, de tão fugazes, parecem virar-se apenas para o consumo imediato", sublinhou Miguel Branco.

Daí que o que está escrito seja "venham ver isto, porque alguma coisa parece não estar bem, e até parece pode ser muita coisa, pouca ou nada".

Mais do que dar respostas, o espetáculo pretende levantar questões, referiu.

O espetáculo, que se estreia no sábado, na Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro, com sessões às 15:00 e às 21:30, tem encenação de Levi Martins e interpretação de André Alves, Estela Zambujo, Eduardo Dias, João Jacinto e Pedro Nunes.

No Montijo, o espetáculo terá mais cinco récitas: no domingo, às 21:30, nos dias 17 e 18, às 21:30 de cada dia, e no dia 19, às 15:00 e às 21:30.

Em setembro, segundo Levi Martins, será apresentada na Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, em Almada, em data ainda não confirmada.

"Até parece" tem cenografia e figurinos de Adelino Lourenço, música, som e design de André Reis e registo de vídeo e operação de som de Inês Monteiro, contando com o apoio da Câmara Municipal do Montijo, da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro, Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro e Ateneu Popular de Montijo.

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