A transferência de Felipe do FC Porto para o Atlético de Madrid, oficializada esta segunda-feira já muito perto da meia-noite num negócio que rende 20 milhões de euros à SAD dos dragões, vem reforçar uma tendência de há muitos anos que começou na década de 1980 com Paulo Futre: os colchoneros têm o mercado português como um dos alvos preferenciais na hora de fazer contratações. E Felipe pode não ser o único neste defeso, já que Herrera, em final de contrato com o FC Porto, deve seguir os mesmos passos. E também se fala no benfiquista João Félix..Desde a célebre transferência de Futre do FC Porto para o Atlético Madrid, fechada no verão de 1987, o clube da capital espanhola já contratou mais 21 jogadores (22 contando já com Felipe) a clubes portugueses (futebolistas nacionais e estrangeiros) e gastou cerca de 220 milhões de euros (240 com o defesa ex-FC Porto). Nem todos tiveram sucesso e alguns nem sequer chegaram a vestir a camisola colchonera, andando de empréstimo em empréstimo. Mas o número torna o Atlético no clube de topo europeu que mais recruta em Portugal..Futre deu o mote na temporada 1987-1988. Tinha acabado de se sagrar campeão europeu pelo dragões e quase tudo certo para rumar ao Inter de Milão. Mas num golpe de última hora, Gil y Gil, candidato às eleições do emblema da capital espanhola, deu a volta a Pinto da Costa com uma proposta tentadora (480 mil contos na altura, o que aplicando a inflação rondaria atualmente os 6,6 milhões de euros). E também a Paulo Futre, que além de um cheque chorudo ainda ganhou um Porsche amarelo de prémio.. Numa entrevista à Notícias Magazine, em abril de 2018, Futre contou como se consumou esta transferência e falou do Porsche, que ajudou a convencê-lo a assinar pelo Atlético. "Na véspera de conhecer Gil y Gil, que era na altura candidato à presidência do Atlético, tinha tudo acertado com o Inter de Milão. A negociação foi feita em casa do Ernesto Pellegrini [presidente do Inter], com Pinto da Costa e comigo, e para chegar a acordo foi um sarilho. No dia seguinte aparece o Gil em Milão, disposto a dar tudo. Pedimos logo o dobro. E pergunta‑me ele: casa? E eu: com piscina. Ele: coche? E eu: Porsche. A gente pedia e ele tomava nota. Ui, desconfiei daquilo. Só pensava: 'E se o homem perde as eleições que eram dali a três ou quatro dias?' E disse ao Pinto da Costa: 'Amanhã quero o Porsche, pelo menos fico com o carro. Sem Porsche vou‑me já embora.' No dia seguinte, no stand só havia um carro para entrega. Nunca tinha visto um carro amarelo. O Pintinho, percebendo que eu ia recusar, diz com aquele sotaque dele: 'Ó Paulinho, olha que o carro é muito bonito.'".Paulo Futre acabou por ser um caso sério de sucesso no Atlético de Madrid, grande figura do clube durante muitos anos e ainda hoje considerado um dos melhores jogadores de sempre dos colchoneros. E também pode ter contribuído para a valorização do futebolista português..Untitled infographic Infogram.Na temporada 1990-1991, o Atlético veio de novo pescar a Portugal. O alvo era João Vieira Pinto, jovem que começava a dar nas vistas no Boavista. Mas a experiência correu mal para os dois lados. O clube já tinha três estrangeiros e mandou João Pinto para a equipa B. O então rapaz de 16 anos não aguentou e acabaria por regressar ao Bessa sem minutos no emblema espanhol..Entre 1999 e 2009, ou seja, no espaço de dez anos, mais seis jogadores deixaram clubes portugueses para assinar pelo Atlético de Madrid. Hugo Leal (1999-2000) e Dani (2000-2001) chegaram a custo zero depois de terem rescindido com o Benfica, Zé Castro e Diego Costa (2006-2007), Simão Sabrosa (2007-2008) e Paulo Assunção (2008-2009)..O brasileiro Diego Costa é um caso muito peculiar, já que ainda se mantém no plantel do Atlético de Madrid (apesar de empréstimos sucessivos e de uma passagem pelo Chelsea). O avançado brasileiro, então com 17 anos, integrou a equipa do Sp. Braga em 2006-2007, depois de ter rodado no Penafiel. Mas após sete jogos foi logo vendido ao Atlético de Madrid por três milhões de euros, num dos primeiros negócios do presidente António Salvador..Durante este período, a transferência que mais dinheiro rendeu aos cofres dos clubes portugueses foi a de Simão Sabrosa, que permitiu à SAD benfiquista um encaixe de 20 milhões de euros no verão de 2007. Foi o regresso de Simão à liga espanhola, depois de ter vestido a camisola do Barcelona por duas temporadas, entre 1999 e 2001, onde chegou oriundo do Sporting..A temporada 2011-2012 marca o maior número de transferências de jogadores que atuavam em Portugal para o Atlético: de uma só vez, os colchoneros contrataram Falcao e Ruben Micael ao FC Porto, e Pizzi e Sílvio ao Sporting de Braga. A transferência do avançado colombiano que brilhou no Dragão é ainda hoje a maior de sempre paga pelo At. Madrid a um clube português - 40 milhões de euros..De então para cá, só numa temporada o Atlético não fez qualquer contratação no mercado português, em 2017-2018. Em 2012-2013, Insúa chegou do Sporting e Cristián Rodríguez a custo zero (final de contrato) do FC Porto. Em 2013-2014 foi a vez de o guarda-redes Roberto deixar o Benfica para assinar pelo Atlético (apesar de nunca ter jogado pelos colchoneros) e em 2014-2015 há curiosidade de os espanhóis terem vindo a Portugal buscar dois guarda-redes: Oblak, ainda hoje dono das redes do Atlético (rendeu 16 milhões aos cofres do Benfica) e André Moreira, que andou sempre a saltar de empréstimo em empréstimo..Na temporada 2015-2016, mais um negócio a envolver verbas consideráveis, a segunda maior transferência de sempre entre o Atlético de Madrid e clubes portugueses e outra vez com um futebolista colombiano. Jackson Martínez, após três grandes temporadas com muitos golos no Dragão, rumou ao clube da capital espanhola por 35 milhões de euros, o valor da sua cláusula de rescisão. Não se ambientou e só durou meia temporada na liga espanhola, transferindo-se depois para a China. Nesta época jogou cedido pelos chineses ao Portimonense. Também nesta temporada, os colchoneros contrataram Mensah ao V. Guimarães por seis milhões de euros. Mas o ganês nunca vestiu a camisola do Atlético, com sucessivos empréstimos até hoje..Em 2016-2017, mais dois jogadores deixaram Portugal e assinaram pelo clube treinado por Diego Simeone. O médio argentino Nico Gaitán deixou o Benfica a troco de 25 milhões de euros e Diogo Jota saltou do Paços de Ferreira para o emblema da capital espanhola. O jogador sul-americano não foi feliz no Vicente Calderón e após época e meia foi vendido a um clube chinês. Atualmente está nos Estados Unidos. E Jota nunca chegou a representar o clube - primeiro foi emprestado ao FC Porto e depois ao Wolverhampton, que mais tarde o contratou a título definitivo..Após uma época sem contratar em Portugal, no início desta temporada o Atlético voltou à carga e aproveitou as rescisões no Sporting para agarrar Gelson Martins. O internacional português chegou a custo zero, pois era um jogador livre, mas não foi feliz na etapa madrilena, acabando por ser cedido ao Mónaco em janeiro. Recentemente, contudo, Sporting e At. Madrid chegaram a um acordo, com o emblema espanhol a pagar 22,5 milhões de euros à SAD leonina, mas deste bolo o Sporting teve de descontar 7,5 milhões por 50% do passe de Vietto, jogador contratado para a nova época dos leões..Agora, Felipe (transferência já oficializada) e Herrera vão dar continuidade a esta tendência do emblema da capital espanhola em assegurar reforços junto de clubes portugueses. E veremos se os reforços vindos de Portugal ficam só por aqui,,,