Astrónomos querem tirar nome de Magalhães das estrelas
Há anos que nome do navegador Fernão de Magalhães está escrito nas estrelas, mas isso pode vir a mudar. As duas galáxias satélites da Via Láctea (muito brilhantes), observáveis no hemisfério sul , que têm o nome do português - Grande e Pequena Nuvem de Magalhães - estão a ser alvo de contestação por um grupo de astrónomos que querem retirar o nome do português do céu. Defendem que o navegador do século XVI foi um assassino e que escravizou e incendiou as casas dos povos indígenas durante a primeira expedição de circum-navegação do planeta. Insistem, por isso, que o seu nome não deveria estar associado às galáxias. Citada pelo jornal britânico The Guardian, a astrónoma Mia de los Reyes, do Amherst College do Massachusetts, nos EUA, diz que "Magalhães cometeu atos horríveis. Ele e os seus homens queimaram aldeias e mataram habitantes onde hoje são as Guam e as Filipinas".
Magalhães liderou a expedição espanhola em 1519 que conseguiu a primeira navegação europeia para a Ásia através do Pacífico, e morreu numa batalha, em 1521, com os povos indígenas nas atuais Filipinas.
Num artigo na revista APS Physics, Reyes apela à União Astronómica Internacional - órgão encarregado de nomear os corpos celestes - para renomear as Nuvens de Magalhães. "Eu e muitos outros astrónomos acreditamos que objetos e instalações do espaço não deveriam ter o nome de Magalhães, ou de qualquer outra pessoa com um passado colonialista violento."
De acordo com David Hogg, professor da Universidade de Nova Iorque, não é apenas pelas ações de Magalhães que se deveria retirar o seu nome das galáxias satélites, mas sim porque "não foram descobertas dele", disse ao site space.com.
Os povos indígenas de todo o hemisfério sul tinham os seus próprios nomes para esses corpos celestes. Só no final do século XIX é que receberam o nome do explorador português. "Quando defendemos os nomes de pessoas, como Fernão de Magalhães, cujas vidas e legados causaram danos ativamente, alienamos as comunidades que foram prejudicadas", acrescenta Mia de los Reyes ao mesmo jornal.
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