Associação exige intervenção do estado para travar ritual com crianças
A presidente de uma organização não-governamental guineense de luta contra práticas nefastas exigiu esta segunda-feira que o estado intervenha com urgência para travar a fuga de milhares de crianças das escolas para um ritual de iniciação nas matas.
Fatumata Djau Baldé, antiga ministra dos Negócios Estrangeiros guineense e líder do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas (CNAPN), quer a intervenção do primeiro-ministro, Artur Silva, para acabar com a ida de crianças ao 'fanado', ritual que obriga os jovens a ficarem durante 45 dias nas matas.
Segundo Djau Baldé, o ritual acontece neste momento em Bissau, em Biombo (nordeste) e no Oio, no norte. Já o ano passado, referiu, o mesmo ritual foi organizado em algumas localidades do país e durante o período escolar.
"O Estado não faz nada quando devia proibir a realização dessa prática durante o período escolar", observou a líder do CNAPN que reclama pela urgência de uma lei sobre o ritual masculino como foi feito em relação às raparigas.
Djau Baldé sublinhou que o Governo devia ordenar imediatamente a retirada das crianças das 'barracas' (santuários nas matas) onde se encontram em cumprimento de um ritual que a dirigente disse não fazer sentido que seja observado durante 45 dias.
"Não podemos permitir que algumas pessoas hipotequem o futuro daquelas crianças", defendeu Baldé, conhecida também pelo seu ativismo na luta contra a excisão genital feminina na Guiné-Bissau.
A responsável também não concorda que se diga que o 'fanado' dos rapazes é o cumprimento da tradição quando se vê, disse, pais das crianças a serem obrigados a pagar 40 ou 50 mil francos CFA (entre 60 e 75 euros) para retirem os seus filhos das 'barracas'.
"Até a tradição está a perder o seu valor. Agora é tudo feito a troco de dinheiro", observou Fatumata Djau Baldé.