Assimetria na saúde
É importantíssimo progredir na colaboração entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
O Serviço Nacional de Saúde tem sobrevivido razoavelmente apesar das investidas da iniciativa privada e continua a constituir o núcleo fundamental do nosso sistema de saúde. Tudo o que puder ser feito para clarificar a articulação do público com o privado e o "social", separando as águas, impedindo o parasitismo e recompensando as sinergias úteis para os doentes, será muito bem-vindo.
A implementação de um sistema informático "de" saúde centrado no doente, eficiente e tendencialmente universal, será saudada por todos. Como também o serão as medidas que protejam as pessoas mais frágeis (idosos, deficientes, carenciados) em termos de acesso aos serviços de saúde e à qualidade dos cuidados.
Deveremos corrigir a assimetria da organização do nosso sistema de saúde que é demasiado hospitalocêntrico. Temos de ter menos e melhores hospitais, com maior autonomia de gestão das unidades públicas - e correspondente responsabilização - e com distintos graus de diferenciação, enquadrados pela famigerada rede de referenciação nacional.
A racionalização da rede de cuidados hospitalares permitirá desenvolver a rede de medicina geral e familiar e a rede de cuidados continuados e paliativos. A definição de uma organização tripolar clara facilitará a sua monitorização e avaliação, e permitirá descentralizar as redes de medicina geral e familiar e de cuidados continuados e paliativos. A existência desta espécie de tripé facilitará o reforço inteligente da saúde pública e a gestão das vagas para o internato das especialidades nos diferentes sectores.
Finalmente, é importantíssimo progredir na colaboração entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Esta colaboração é indispensável para a criação do estatuto de Hospital Universitário e para dar substância real aos recém-criados centros académicos de medicina com os seus institutos de investigação biomédica e os centros de saúde e hospitais afiliados. A colaboração dos dois ministérios permitirá ainda estimular a investigação clínica e de translação acelerando a criação de gabinetes de investigação nos hospitais e a individualização, na FCT, de um programa vocacionado para a investigação médica e biomédica à semelhança do que se faz em Espanha sob a égide do Instituto Carlos III.