Mafra tornou-se hoje no primeiro município do país a decidir acabar com a concessão a privados do abastecimento de água à população e fazer regressar a gestão a serviços municipalizados, com decisões tomadas em Assembleia Municipal..A Assembleia Municipal de Mafra autorizou o resgate a concessão de água e saneamento indemnizando a concessionária Be Water em 16 milhões de euros, a consequente criação dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Mafra e a contração de um empréstimo bancário no valor de 22 milhões de euros..As decisões foram aprovadas pelo PSD, PS, CDS-PP e abstenções da CDU, um momento considerado "histórico para o concelho", assistido por cerca de uma centena de populares..A concessionária tem um ano para entregar a concessão e as instalações e equipamentos da Be Water "reverterão para a câmara", que, por sua vez, vai admitir os funcionários da empresa nos Serviços de Municipalizados de Água e Saneamento, assegurou o presidente da autarquia, Hélder Sousa Silva (PSD)..Apesar de pagar a indemnização, o município garante conseguir reduzir as tarifas em 5% e investir 18 milhões de euros, em vez dos 12 milhões previstos pela concessionária, na renovação da rede de água e saneamento..O autarca justificou que, desde 2012, a fatura da água e saneamento começou a ser cada vez mais inacessível à população face à média dos seus rendimentos..Em paralelo, desde 2012 os consumos de água e o caudal de águas residuais tratadas passaram a ser inferiores aos valores contratualizados com a Be Water, motivo pelo qual a empresa pedia à concedente uma compensação de 19 milhões de euros em 2016 ou 46 milhões de euros em 2025 (no final do contrato) para o seu reequilíbrio económico-financeiro, o que obrigaria a um aumento médio das tarifas em 30%..Contra a "alarvidade de dinheiro", o município defendeu que "não é sustentável qualquer aumento das tarifas, porque põe em causa o direito de acesso a água potável, onerando os munícipes".."O resgate da concessão é o melhor caminho para a câmara, decorrido que está um quinto do contrato", concluiu o autarca, justificando uma decisão a favor do "interesse público"..A Be Water pede 50 milhões de euros de indemnização, valor contestado pela câmara municipal, que aponta para 16,3 milhões de euros, estimados pela Entidade Reguladora de Serviços de Água e Resíduos (ERSAR), e os 22 milhões..A manter-se a concessão, até 2025 o município teria de entregar 36 milhões de euros de receitas à concessionária ou 28 milhões de euros, em caso de redução das tarifas em 5%..Em 1994, Mafra tinha sido o primeiro município do país a privatizar o serviço..Em 1941, a câmara criou os Serviços Municipais de Água de Saneamento, vindo em 1943 a abastecer a população de água a partir de captações e uma rede domiciliária próprias que, pelas suas deficiências, obrigaram o município a comprar água à EPAL a partir da década de 1960 e em 1994 a entregar a concessão da água e do saneamento a privados.