Assalto ao Santa Maria: o comandante foi assaltado e amordaçado
"Tomadas todas as medidas adequadas para pôr termo, o mais rapidamente possível, à farsa trágica que os que abusivamente se inculcam como democratas puseram em cena no mar das Caraíbas com o criminoso assalto ao Santa Maria", lia-se numa das notícias da primeira página do Diário de Notícias a 25 de janeiro de 1961.
Nesse dia, a capa do jornal era toda ela dedicada ao desvio do navio pelo comandante Henrique Galvão. Os títulos referiam a "proeza criminosa de um bando de aventureiros", explicavam que "o paquete Santa Maria seguia ontem ao fim da tarde rumo leste navegando em direção à costa africana", afirmavam que "o comandante do navio foi atado e amordaçado pelo próprio Henrique Galvão".
Outro ainda dava conta do auxílio que os EUA estavam a dar a Portugal na captura do paquete. Não faltava ainda a reação do pai do 3.º piloto do Santa Maria: "Perdi o meu filho mas orgulho-me de saber que tombou como um herói", ilustrada com uma fotografia do casamento de Nascimento Costa, o tal piloto "assassinado pelos piratas".
O líder do assalto, o capitão Henrique Galvão, pretendia com o desvio do navio provocar um golpe político-militar em Portugal. De repente, o mundo olhava para Portugal, uma ditadura fascista senhora de um vasto império colonial, e essa propaganda negativa para o regime foi no final o único êxito de Galvão, que se renderia no Brasil, entregando o paquete e acabando por nunca regressar à pátria, pois morreu em 1970.
O navio tinha partido de Curaçao, nas Antilhas holandesas, com destino a Miami, cheio de americanos a bordo, o que garantiu a cobertura jornalística. No assalto foi morto o 3.º piloto e feridos outros membros da tripulação.
O grupo de Galvão era constituído sobretudo por portugueses e espanhóis, que lutavam para derrubar Oliveira Salazar e Francisco Franco.