Assad quer ser "lembrado como o presidente que salvou a Síria"
Bashar al-Assad quer ser recordado como o "presidente que salvou a Síria", ainda que "possa não ser presidente daqui a dez anos", disse numa entrevista ontem publicada no diário espanhol El País.
Mostrando-se absolutamente certo da vitória final do regime, ainda que a longo prazo, Assad recusa qualquer estatuto político aos grupos da oposição armada, a não ser que deponham as armas, garante que as forças armadas da Turquia e Arábia Saudita serão "tratadas como terroristas" se entrarem na Síria e acusou estes países, além do Qatar, de estarem por detrás da rebelião que desde 2011 o tenta derrubar.
A entrevista ao diário espanhol é a mais recente de uma série que o dirigente sírio tem vindo a conceder a órgãos de informação ocidentais desde o início de 2015, tendo sido uma das primeiras concedidas a Paulo Dentinho, da RTP. Assad tem multiplicado as declarações aos media ocidentais, em particular nos últimos meses, a partir do momento em que, de regime acossado e na defensiva, Damasco recuperou a iniciativa graças ao envolvimento militar direto da Rússia, com uma campanha de ataques aéreos, e do Irão e do Hezbollah libanês no terreno. O que é admitido por Assad, afirmando este que, "sem qualquer dúvida, o apoio russo e iraniano foi essencial para que o nosso exército esteja a avançar".
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A aviação russa iniciou os bombardeamentos há mais de cinco meses e efetivos iranianos e do Hezbollah têm estado envolvidos em combates, os segundos desde 2012, e os primeiros desde 2013.
O dirigente do regime de Damasco disse ainda que, "com certeza precisávamos desta ajuda, por uma simples razão: mais de 80 países são apoiantes dos terroristas [designação do regime para toda a oposição] de diversas formas. Alguns de forma direta, com dinheiro, apoio logístico, armas e combatentes. Outros concedem-lhes apoio político nos diferentes fóruns internacionais".
No poder desde 2000, após a morte do pai, Hafez al-Assad, que governou desde 1971, Bashar al-Assad evitou a pergunta se tenciona permanecer como presidente, dizendo que "o mais importante é como vejo o meu país, porque sou parte dele" e se "no espaço de uma década conseguir salvar a Síria como presidente - isto não significa que ainda seja presidente daqui a dez anos (...), se a Síria for um país seguro e estabilizado, fui eu a pessoa que salvou o seu país. Essa é a minha tarefa agora, o meu dever".
Atentados e acordo
Assad garantiu que os refugiados podem voltar à Síria sem receio de represálias, "a não ser que sejam terroristas ou assassinos".
Apesar do tom otimista e resoluto evidenciado por Assad na entrevista ao El País e apesar do avanço do regime, que cerca atualmente a maior cidade do país, Aleppo (ainda em poder da oposição), as suas forças continuam a ser alvo de ataques. Ainda ontem, dois carros armadilhados explodiram num bairro xiita de Homs, cidade recentemente recuperada pelo regime, tendo morrido cerca de 60 pessoas. E em Damasco uma série de explosões, também numa zona xiita, causaram mais de 50 vítimas mortais, algumas delas menores de idade.
No plano político, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou ter-se chegado a um "acordo provisório" para concretizar um cessar-fogo no terreno, mas escusou-se a dar quaisquer detalhes. Uma trégua entre as partes em conflito, à exceção dos grupos islamitas, deveria ter entrado em vigor na sexta-feira.
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