AS VOLTAS QUE SE DÁ AO LOSANGO

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Táctica. Com oito jogadores, Paulo Bento já deu 15 formatos diferentes ao meio-campo do Sporting. O suficiente para que se tirem conclusões acerca das funções em que cada elemento mais rende e daquelas que dificilmente eles poderão ocupar

Em Donetsk, na vitória por 1-0 face ao Shakhtar graças à qual o Sporting deu um passo de gigante para obter a primeira qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, Paulo Bento recorreu a três novas formulações para o meio-campo, aumentando para 15 o total de variantes já experimentadas esta época. São muitas voltas dadas a um losango para quem entrou na época sem perder um único dos titulares habituais, que se explicam com o atraso inicial na preparação de Veloso, a lesão de Izmailov e, sobretudo, a entrada de Rochemback nas contas.

Entre o sector com o qual começou a época, e que foi o mais utilizado até agora - 306 minutos em losango com Moutinho a trinco, Romagnoli nas costas dos pontas-de-lança e Rochemback e Izmailov nos vértices laterais - e aquele com que acabou o jogo de Donetsk - Pereirinha e Moutinho nas alas, com Rochemback e Veloso nas posições centrais de uma linha de centrocampistas clássica -, Paulo Bento já chamou oito homens às tarefas de meio-campo. O elemento incontornável é João Moutinho, que foi sempre titular e nunca foi substituído, embora para o estatuto de totalista tenha de contribuir com o espírito de sacrifício que o fez alinhar em todas as posições possíveis.

No início da época, com Veloso a recuperar andamento perdido devido a uma lesão sofrida na pré-época e ao facto de ter chegado mais tarde de férias - culpa do Mundial -, Paulo Bento deu a Moutinho uma dupla missão: começava os jogos como médio mais defensivo, dando segurança na saída a jogar, e acabava-os nas costas dos pontas-de-lança, quando Romagnoli cedia o lugar a Veloso. Rochemback e Izmailov ocupavam então os vértices laterais do losango, com o brasileiro a dar à equipa mais jogo interior e o russo a alargar a equipa, abrindo mais nas alas. Com uma curta interrupção após a expulsão de Polga frente ao Trofense (a jogar com dez, a equipa passou a mover-se de forma diferente, com apenas um avançado), esta dupla formulação foi rendendo até ao jogo em Barcelona. Aí, contudo, começaram a ficar à vista duas coisas: que Rochemback estava a perder andamento, tornando-se um risco dar-lhe o lado direito do meio-campo, sobretudo tendo atrás um defesa tão ofensivo como Abel, e que, pela melhoria que conferiu à equipa no curto período em que actuou ao meio, antes de ser desviado para defesa-esquerdo, Veloso fazia falta como organizador.

Apesar de tudo, frente ao Belenenses voltou o mesmo meio-campo, apenas desfeito devido à entorse sofrida por Izmailov. Vivia-se então o rescaldo do caso-Vukcevic e a primeira variação introduzida por Bento passou pela chamada do montenegrino. Esse jogo, porém, foi marcado por outra novidade, que foi a primeira substituição de Rochemback: foi o brasileiro quem saiu aos 67' para dar entrada a Veloso, promovendo a primeira passagem de Moutinho pela posição de médio-interior em que se notabilizou. Com Izmailov lesionado e Vukcevic de novo zangado, o jogo com o Benfica valeu a Veloso a primeira titularidade da época, contribuindo para lançar o debate acerca da sua compatibilidade com Rochemback. O brasileiro falhou no primeiro golo do Benfica e, com 0-0 ao intervalo da partida seguinte, em casa com o Basileia, foi assobiado, lesionou-se e saiu, dando lugar a Vukcevic. Para que não restassem dúvidas, Paulo Bento veio dizer que, mesmo sem lesão ou assobios, seria sempre ele o sacrificado.

Chegou o jogo com o FC Porto e, estranhamente, Paulo Bento chamou Yannick para o lugar de Romagnoli. Queria esticar o jogo, mas só conseguiu partir a equipa e ter menos bola. O regresso de Izmailov, para a partida em Leiria, permitiu ao Sporting começar o primeiro jogo sem Rochemback: nessa noite jogou de início o meio--campo mais vezes utilizado na época passada, com Veloso atrás de Izmailov, Moutinho e Romagnoli. Embora com um futebol utilitário, pois vinha aí uma viagem importante à Ucrânia e o adversário era da II Liga, voltou a ver-se um Sporting rotinado. Daí que, em Donetsk, de novo com Rochemback no onze, Paulo Bento tenha optado por manter Mourinho, Romagnoli e Izmailov nas mesmas posições, colocando Rochemback a trinco. Jogava com os mesmos jogadores com que iniciara a época, mas trocando duas pedras.

Ao fim de dez jogos e de 15 meios-campos, há uma série de conclusões a tirar. Que João Moutinho pode jogar em qualquer posição, mas é mais útil à equipa como médio-interior. Que entre Izmailov, Vukcevic e Pereirinha, um dos três deve estar sempre em campo, pois são eles os únicos a dar verdadeiramente largura ao onze. Que a lentidão de Rochemback o torna um perigo como médio-interior, onde a velocidade de basculação quando o adversário muda de flanco ou a rapidez sempre que ele investe pelo corredor lateral são imprescindíveis. Que, por isso, Rochemback pode jogar a trinco - embora aí cometa demasiadas faltas - e sobretudo nas costas dos pontas-de-lança, onde se exige menos dele defensivamente e terá mais possibilidades de aplicar o seu pontapé-bomba. Que, mesmo não tendo ainda sido experimentada, a utilização de Rochemback atrás dos avançados pode ser a única forma de o compatibilizar com Veloso. Que as diagonais e a fineza de trato da bola fazem de Romagnoli recomendável na ligação a equipa. E que tanto Moutinho como Yannick podem substituir o argentino, mas em situações diferentes: o capitão quando a equipa está a ganhar, pois assegura mais solidez, e o goleador quando a equipa está a perder e contra adversários que recuem demasiado as linhas.|

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