As várias hipóteses de coligação

Na Alemanha as eleições são mais sobre partidos do que indivíduos. 34 formações partidárias estão na corrida para o Bundestag, Parlamento alemão, mas apenas nove concorrem em todos os os 16 estados-federados da Alemanha e provavelmente um número ainda menor conseguirá representação parlamentar Esta votação é, por isso, também muito uma história de coligações coloridas. Veja aqui quais as coligações possíveis para o pós-22 de setembro.
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COLIGAÇÃO PRETA E AMARELA

Uma tal combinação de cores significaria a reedição da coligação no poder na Alemanha, sendo o preto a CDU/CSU dos conservadores de Angela Merkel e o amarelo o FDP dos liberais, encabeçados nestas eleições por Rainer Brüdele e não pelo líder do partido, Philip Rösler, atual ministro da Economia e vice-chanceler da Alemanha. Os resultados do FDP são uma incógnita, uma vez que o partido tem sofrido sérias derrotas eleitorais em escrutínios regionais. Se os liberais não chegarem aos 5% necessários para entrar no Parlamento, Merkel vê-se automaticamente obrigada a procurar noutras cores eventuais aliados para governar.

COLIGAÇÃO PRETA E VERMELHA

Caso o FDP fique fora do Parlamento, Merkel poderia tentar uma Grande Coligação com o SPD, partido social-democrata representado pela cor vermelha. Tal não seria inédito, pois já aconteceu durante o seu primeiro mandato após as legislativas de 2005. Segundo o 'Financial Times' esta é até a opção preferida pela maioria dos alemães (52%) e segundo alguns analistas uma aliança mais inclusiva da sociedade alemã que facilitaria passos importantes na Zona Euro. François Hollande, Presidente de França, que tem defendido uma maior aposta em políticas de crescimento em vez da prioridade dada às de austeridade, também veria com bons olhos esta opção. Barbara Böttcher, analista do Deutsche Bank Research, lembra que esta opção permitiria também menos bloqueios a nível do Bundesrat (câmara alta que inclui 69 representantes dos 16 estados-federados alemães), o qual é atualmente controlado pelo SPD e pelos Verdes e cujo aval é importante em decisões de caráter económico. No entanto, uma tal aliança poderia beneficiar mais a CDU/CSU do que o SPD, que perdeu 10 milhões de eleitores desde 1998. Peer Steinbrück, que foi ministro das Finanças na Grande Coligação, tem resistido a admitir participar novamente num tal género de coligação. O certo é que, apesar das diferenças, o Governo centrista cumpriu o seu mandato até ao fim, chegando a acordo sobre a inscrição na Constituição do país do famoso "travão à dívida" e permitindo reformas importantes na UE, como a aprovação do Tratado de Lisboa após a rejeição da chamada Constituição Europeia. Foi também durante a Grande Coligação que se aprovou o aumento da idade da reforma para os 67 anos.

COLIGAÇÃO PRETA E VERDE

Outra hipótese de coligação seria uma aliança CDU/CSU-Verdes. O partido ecologista, que tem liderança e candidatura bicéfala, poderia funcionar como opção de último recurso para Merkel, podendo haver minorias dos dois campos a defender uma tal aliança. E se por um lado os Verdes apoiam o abandono do nuclear na Alemanha, aceite pela chanceler após o desastre de Fucoxima, no Japão, por outro receiam que ma coligação preta e verde os faça perder eleitores. Culturalmente, os Verdes encontram as suas raízes nos movimentos de estudantes da década de 60 do século XX, revoltados com os partidos dos seus pais. Mas, como escreveu Wolfgang Rüdig, da Universidade de Strathclyde, no blogue da London School of Economics, "uma coligação com a CDU/CSU pode ser o único caminho para os Verdes entrarem no Governo federal nas eleições de 2013".

COLIGAÇÃO PRETA, AMARELA E VERDE

Esta seria uma aliança entre CDU/CSU, FDP e Verdes e significaria que os resultados eleitorais obtidos pelos conservadores de Merkel e os seus aliados liberais deixariam muito a desejar. Este cenário de aliança governativa é por vezes tratado nos media como "coligação Jamaica", numa referência às cores que compõem a bandeira daquela nação insular situada no mar das Caraíbas.

COLIGAÇÃO VERMELHA E VERDE

Esta equação teria como chanceler Peer Steinbrück, do SPD, maior partido da oposição que é atualmente liderado por Sigmar Gabriel. Sociais-democratas mantêm que a sua grande ambição é uma coligação vermelha e verde, como aquela que governou a Alemanha entre 1998 e 2005. Estes governos tiveram como chanceler Gerard Schröder e como ministro dos Negócios Estrangeiros Joschka Fischer. Para a história ficou a firme oposição de Schröder à invasão militar do Iraque em 2003. Os analistas dizem que uma tal coligação, no contexto atual, conduziria a políticas diferentes das atuais para a UE e para a Zona Euro.

COLIGAÇÃO VERMELHA, VERMELHA E VERDE

Formulação vista como pouco provável e de último recurso seria formada pelo SDP, pel'A Esquerda (partido com liderança bicéfala que é representado, tal como os sociais-democratas, pela cor vermelha) e pelos Verdes. Teria como chanceler Peer Steinbrück. Gregor Gysi, ex-comunista que é líder parlamentar d'A Esquerda no Bundestag, já disse que o seu partido estaria disponível para formar uma tal coligação se isso significasse tirar Merkel do poder na Alemanha. No entanto, o Steinbrück, que se diz que a Alemanha tem de ser um parceiro internacional estável, não gosta muito de ser associado a esta formação, crítica da NATO e da UE. Na memória dos sociais-democratas alemães ficou a recusa d'A Esquerda em apoiar, por duas vezes, o seu candidato à presidência alemã, Joachim Gäuck. O ex-pastor luterano e ex-gestor dos arquivos da Stasi, a polícia secreta da ex-RDA, é chefe do Estado da Alemanha desde março de 2012.

COLIGAÇÃO VERMELHA, VERDE E AMARELA

Opção conhecida como "coligação semáforo", seria constituída pelo SPD, pelos Verdes e pelos liberais do FDP, tendo Steinbrück como chanceler. Seria uma alternativa a considerar caso não fosse possível uma Grande Coligação CDU/CSU-SPD, uma coligação SPD-Verdes ou uma aliança SPD-Verdes-A Esquerda. Rainer Brüderle, cabeça de lista pelo FDP, diz que uma tal opção está fora de questão porque o SPD e os Verdes querem mais impostos, algo a que os liberais se opõem. No entanto, o que os políticos dizem antes das eleições, pode ser diferente depois delas.

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