As rotas da seda marítimas entre o Extremo Oriente e a Europa

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A promoção pela China da Belt and Road Initiative (BRI) conduziu a um interesse inusitado nas rotas marítimas entre o Extremo Oriente e a Europa.

A "Rota da Seda Marítima" inicial da BRI é a rota do sul, ligando os portos da China e de outros países do Extremo Oriente à Europa, passando por Singapura e canal de Suez. O foco desta primeira rota da seda marítima chinesa está em alguns portos mediterrânicos - Istambul, Atenas-Pireu e Trieste - e alguns corredores terrestres associados. Estudos de investigadores das universidades de Antuérpia e de Rijeka mostram que, tomando como destino Munique, o transporte de Xangai via Trieste leva 33 dias, enquanto via Roterdão ou Hamburgo, demora 43 dias. De Hong Kong, a rota de Trieste reduz o transporte para Munique de 37 para 28 dias.

A Rússia e a China estão a tentar explorar a Rota do Mar do Norte (NSR) , também denominada "Rota da Seda Polar", ao longo das águas russas no Ártico. A distância de navegação pela NSR de um porto do Noroeste Europeu ao Extremo Oriente é aproximadamente 40% menor em comparação com a rota via canal de Suez. Um navio porta-contentores proveniente da China pode levar cerca de 34-40 dias para chegar a Roterdão, o principal porto europeu. Em contraste, na NSR os navios podem levar em torno de 23 dias. A China COSCO Shipping e a Maersk completaram já várias viagens testando estas rotas marítimas do Ártico, onde o degelo gradual deverá permitir dentro de alguns anos a operação desta rota, pelo menos durante uma parte do ano. As autoridades russas acreditam que a rota pode ser viável em 2035.

Além da rota pela costa da Rússia, existe uma outra Rota do Ártico, via Canadá - a "Passagem do Noroeste", através de uma série de canais profundos entre ilhas que compõem o arquipélago Ártico Canadiano - de duração similar, embora sem muito apoio logístico ao longo da costa. A sua exploração comercial está também dependente do ritmo do degelo do oceano Ártico provocado pelo aquecimento global.

Outra rota alternativa é através do canal do Panamá. Embora o trajeto marítimo Tóquio-Roterdão seja de 21 100 km pelo canal de Suez e de 23 300 km pelo canal do Panamá, esta rota tem potencial; em especial se o seu término for no extremo ocidental da UE. Com o alargamento do canal do Panamá, em 2016, passou a ser possível a navios porta-contentores transportarem até 14 mil TEU, o que está a levar alguns armadores de navios a equacionar uma rota entre o Extremo Oriente e a Europa via canal do Panamá com navios Neopanamax ou post-Panamax Plus. E já está previsto um novo alargamento do canal que permita a passagem de porta-contentores com capacidade até 20 mil TEU. Existem operadores portuários da China (e de outros países) interessados em promover a criação / exploração de um novo porto de águas profundas na costa ocidental da UE, com boa área logística com espaço disponível para crescer, que possa funcionar como um grande hub logístico para o transporte multimodal de mercadorias por via ferroviária para a Europa Ocidental. O novo terminal do Porto de Sines, com a ZILS ao lado, é o local ideal mas para que isso seja exequível é necessário que no nosso país exista um rumo estratégico claro em relação ao que se pretende com um novo terminal de mercadorias...

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