As relações entre militares e políticos
Começo por afirmar que o relacionamento dos militares com os políticos nunca teve, por parte dos primeiros, qualquer momento de crise. Os militares têm caracterizado a sua postura por um sentido patriótico e de obediência institucional irrepreensíveis.
Já no que concerne aos políticos o seu comportamento para com os militares tem sido pautado por inveja, arrogância e receio.
A inveja nasceu com o 25 de Abril, já que os políticos nunca perdoaram aos militares terem conseguido a libertação de Portugal do jugo do regime salazarista. Os políticos, em vez de se sentirem exultantes com os acontecimentos, consideraram-se espoliados por lhes ter sido retirado esse trunfo para o seu sucesso junto do povo.
A arrogância é fruto de um poder que se julga absoluto e que tem levado os políticos a tomarem decisões que só pretendem mostrar quem manda e quem obedece. Argumenta-se que um ministro é um gestor e não necessita de ser um especialista nas matérias de defesa. Contudo, se não souber nada dos assuntos do ministério, não poderá reestruturar, racionalizar ou redimensionar e limitar-se-á a reduzir, restringir e eliminar. É, também, sintomático da forma de estar dos políticos o que se passou com a tentativa de alterar a capacidade passiva eleitoral dos militares, numa acção de descriminação negativa e num atestado de menoridade da profissão militar e dos seus profissionais relativamente às outras profissões.
Receio, porque os políticos não percebem a índole dos militares, o que os move e quais os valores éticos e morais que norteiam a sua conduta. Nunca entenderam qual a razão que levou os militares a entregarem o poder a esses mesmos políticos, tal como o haviam prometido, e que, depois disso, não tenham procurado ocupar lugares nos conselhos de administração dos bancos, das grandes empresas de construção civil, das petrolíferas, etc., e tenham preferido regressar aos quartéis, para aí continuarem a servir Portugal e os portugueses. Não quer dizer que os militares sejam seres impolutos. É evidente que, tal como em outras profissões, há alguns elementos que se afastam da atitude normal que devem seguir. São as excepções. Também na política há alguns elementos, poucos, que são competentes, cumprem a palavra dada e zelam pelos interesses dos seus eleitores. São as excepções.
Os políticos sempre procuraram defender os seus interesses e um exemplo disso foi a criação das juventudes partidárias, já que transformaram o que deveria ser um serviço público numa carreira alimentada por jovens ambiciosos, desejosos de rapidamente atingirem o poder.
A primeira grande vitória das juventudes partidárias foi a extinção do Serviço Militar Obrigatório. Liquidaram-no porque esse período era um escolho nos seus projectos de vida e, com isso, eliminaram um factor de coesão nacional e, para muitos, uma formação cívica e moral e a aprendizagem de valores indispensáveis à vida em sociedade.
E os jovens políticos lá continuam a concluir os seus cursos, intervalando com a colagem de cartazes e a organização de manifestações. Depois é o percorrer de um périplo bem planeado, que passa por alguns dos mais importantes escritórios de advogados, pela função de assessores dos ministros e pela ocupação de alguns lugares na estrutura autárquica, para chegarem ao momento de preencher os cargos no governo, ou na estrutura superior dos partidos, sem qualquer experiência de vida, sem nunca terem tido uma profissão, sem qualquer preparação para assumirem as altas responsabilidades para que vão sendo nomeados.
Senhor primeiro-ministro,
Vossa Excelência já foi alertada para uma verdade inquestionável: as FA são obedientes, mas não são subservientes e, como pilar fundamental do Estado, têm de ser tratadas com o respeito, a dignidade e a deferência que merecem as poucas instituições que têm esta qualificação.
E é importante ter presente que as FA, apesar de se encontrarem na dependência do MDN, juraram fidelidade a valores e entidades que estão muito acima do Governo. Deste facto há que retirar as devidas ilações.
*Tenente-General na reforma