As obras antes do museu: Os artistas abrem os seus ateliês
Quando passear pelas alas de um museu e imaginar o angustiado artista trancado em 10m2 de absoluta solidão (à exceção, talvez, de um gato), cinzeiros por limpar com cigarros fumados de estômago vazio e sinais vários de uma demorada reclusão, lembre-se disto.
Estamos no GRILO, complexo artístico cujo nome vem daquela rua de Xabregas em que se situa, entre os números 110 e 116. Já foi um armazém da Matutano e, pela área que pisamos ao entrar, já circularam camiões TIR. Por ora, só se avistam telas pintadas no chão e na parede, mesas, cadeiras, plantas. Aparece, para espreitar, Millie, a cadela de Bete Gouveia, artista brasileira a trabalhar naquele ateliê que, entre hoje e domingo, está aberto aos que o queiram visitar.
O GRILO é um dos 41 lugares de trabalho de cerca de cem artistas que participam na sexta edição do Aberturas de Ateliês de Artistas (AAA), organizada pela associação Castelo d' If. Por Lisboa inteira, e de entrada tão livre quanto a das ruas, o público pode assistir ao ofício de artistas que quotidianamente trabalham nos seus ateliês. Além desses, no roteiro constam ainda artistas convidados de cidades como Paris, Marselha, Glasgow ou Turim, onde eventos semelhantes têm lugar.
Sofia Aguiar que, com Tomás Colaço - o autor das obras expostas à entrada do GRILO - em junho abriu este ateliê, aparece. Dessa garagem inicial subimos as escadas até ao jardim que, quando eles ali chegaram, era um retângulo de erva muito alta. A solução? Duas cabras que, findo o serviço, foram dispensadas.
Há também uma cozinha, de onde saíram os vários jantares que ali já se fizeram e que terão continuado naquele enorme salão a que, em jeito de paródia, os "da casa" chamam o "grande salão de aparato". Há um sem-número de castiçais, candeeiros, tapeçarias, sofás e senhorinhas, livros, discos e o colchão onde Sofia e Tomás por vezes dormem. Atravessamos o salão e chegamos aos ateliês, ou gabinetes, propriamente ditos.