Às mulheres professoras na minha vida

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Este Dia Internacional da Mulher já não devia existir. Se precisamos dele é porque há ainda coisas que não estão bem. Talvez nunca venham a estar. Não sei. Mas não me vou dedicar a despender muito tempo com estas considerações sobre o dia, preferindo evocar a importância das mulheres, e de algumas em particular (as minhas professoras), na minha vida. O dia, esse, apenas deve lembrar o quanto temos de fazer para chegar a maior diversidade, maior complementaridade, maior respeito, maior equidade. Maior tudo.

Começo pela minha professora de desenho na primária. Sim, no Beiral e para os que por ali passaram, a arte era fundamental. Dizia-me sempre: "tens tanto de mão e de jeito quanto de chato". Dou-lhe toda a razão. E ria-se para mim e obrigava-me a sujar-me ainda mais com tintas.

Depois, bom, depois vem a minha professora primária, uma albicastrense que ensinava pela primeira vez na vida e que tive a felicidade de ter como mestre. Ensinou-me a gostar de ler. Ensinou-me a gostar de matemática (aritmética). E foi esta senhora mandada para Lisboa, a partir de Castelo Branco, que me entregou livros para ler e me fez gostar de ler e escrever. Mas talvez ainda mais importante que isso, e porque sempre gostei de charadas e problemas matemáticos, oferecia-me a cada ano e férias um livrinho de exercícios para me divertir. Sim, para mim era um divertimento. Nunca foi estudo. Nunca foi um trabalho. Nunca foi uma tarefa indesejada. Fazia-o for fun. Mesmo. E quem me ensinou a gostar desses desafios e me alimentava com mais? A minha professora primária. Não sei por onde anda, se ainda será viva - quero acreditar que sim - mas não posso deixar de a recordar aqui com grande carinho.

A minha professora de português de liceu é a senhora que se segue. Uma incondicional fã da forma como escrevia e que me presenteou sempre com notas bondosas. Perguntava-me insistentemente: "Porque não mudas para letras e queres antes seguir engenharia?". No entanto, a decisão estava tomada e em nada me arrependo dela. Talvez continue a escrever para jornais e a escrever para mim mesmo porque esta professora, esta senhora das letras, passou pela minha vida.

Na faculdade tive duas senhoras que me marcaram muito. Uma, infelizmente falecida precocemente com um cancro, acabou por vir a ser mais tarde minha colega e com ela vim a lançar o primeiro mestrado em Logística em Portugal envolvendo 3 escolas: ISCTE, IST e UP. Partiu cedo mas foi, para todos os efeitos, quem criou em mim a ideia de exame incompleto. Num belo exame de Investigação Operacional apresentou todos os problemas associados a pressupostos, que deveríamos formular para, posteriormente, poder resolver. Tentei várias aproximações e achei que o exame estava fraco. Não entreguei. Passei por esta minha professora, no final, e disse-lhe: "Vou treinar esta forma de pensar e, por favor, em segunda época não deixe de fazer um exame deste tipo". Fez. E eu cumpri. A segunda senhora que muito me ensinou no meu percurso académico acabou por ser a minha orientadora de doutoramento. Não esqueço o trabalho, o envolvimento e a disponibilidade para tudo quanto lhe fui pedindo neste processo para que chegasse a bom porto e, no final de contas, tenha tido a influência que teve para que esteja hoje professor.

No final, ou ainda no princípio, não posso deixar de mencionar a minha professora de fisioterapia facial. Tive uma paralisia fácil à direita que me levou até ela. E em 6 meses de atividade diária, repito, diária, ensinou-me a mexer cada músculo da face e a reverter uma notória assimetria de que muito boa gente nunca se livra. Para ela, e por uma paciência combinada a dois, fica também a minha homenagem e palavra de apreço.

São muitas mais as mulheres que me ensinaram coisas imensas na vida e nem sequer menciono aqui as mais óbvias. Não foram minhas professoras formais. A minha homenagem, neste dia, fica para todas as minhas professoras formais, de facto, ou todas as que se dedicaram a mim e que, olhando bem, para além dos excecionais professores formais que tive o privilégio de ter tido na vida, fizeram um trabalho excecional e deram-se de uma forma indelével. Neste dia, e em todos os demais dias, merecem sempre a minha homenagem.

*Presidente do Iscte Executive Education

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