As Missangas, de João Afonso, revistas e aumentadas

O cantautor celebra os 20 anos do primeiro disco com a sua reedição e, sobretudo, com uma digressão que se inicia hoje
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Em 1997, as editoras discográficas chamavam os meios de comunicação quando firmavam contratos com os artistas. As discotecas - palavra que então significava também loja de discos - recebiam material publicitário. Foi assim que a imagem da capa do primeiro disco de João Afonso esteve em destaque em sítios que há muito não existem. Assim como o cão Paco, que fazia parte da fotografia de capa (e da restante sessão fotográfica) de Missangas, então lançado em CD e cassete. Muito mudou na indústria e no comércio da música, mas a qualidade não está sujeita a adaptações ou mudanças - e o disco revelou, ontem como hoje, uma frescura saudada pela crítica. "O Júlio Pereira fez um excelente trabalho (arranjos, direção musical e instrumentos) e vive imenso do jogo de vozes com o meu irmão António, tem muito a alma dele. Estive a ouvir o Missangas e a coisa que notei mais foi a voz de miúdos que eu e o meu irmão tínhamos", comenta João Afonso. "E a temática é intemporal: fala da infância, muita gente viveu uma infância feliz como eu vivi; fala de cores e sabores de África e há muita gente que veio de África, muita gente que teve de sair de Moçambique."

Alguém próximo lembrou-lhe que no dia 5 de maio passariam 20 anos da edição de Missangas, pelo que pegou na ideia para revisitá-lo ao vivo. "No fundo vivemos de pretextos e este é o meu primeiro disco, com trabalho da minha autoria. Foi também o meu disco de afirmação em relação ao meu tio (José Afonso)." Este regresso é também uma redescoberta do autor com a própria obra: "Algumas músicas continuo a tocá-las, como Fugi com Um Cientista, uma das canções emblemáticas do disco, mas outros temas não toco há seguramente 18 anos." Nessa viagem no tempo, desengane-se quem creia que João Afonso vai replicar a gravação. "Ao vivo, a ideia é revisitar com uma roupagem, não diria mais moderna, mas claramente diferente do disco. Não é uma opção pensada, é natural. Até há músicas em que tive de baixar o tom, porque estou mais velho", explica. Não porque João creia que a sonoridade esteja datada, antes como uma evolução natural.

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Na digressão de Missangas - 20 anos, o cantautor leva ao palco nove a dez temas dos 13 do álbum. O resto do espetáculo é formado com canções dos restantes discos de originais: Zanzibar, Barco Voador, Outra Vida e Sangue Bom. Com os "grandes amigos e excelentes músicos", Miguel Fevereiro (guitarras), António Pinto (guitarras), João Ferreira (percussionista) e Vítor Milhanas (baixo), mas também com os convidados especiais Júlio Pereira e António Afonso, João tem ensaiado para o concerto de hoje, em Sintra. "Os ensaios estão a dar-me um prazer enorme. Havia músicas que já estavam consolidadas, mas houve outras que agarrámos. Conseguimos uma dinâmica e variedade no concerto, com partes mais despidas e outras mais a abrir." Diz que o irmão não cantava ao vivo há muito, no entanto foi um reatar natural . "Estivemos a ensaiar e cola-se à minha voz. Dá-me uma alegria especial", comenta.

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A digressão que João Afonso inicia agora - a qual ambiciona poder levar a Moçambique e aos outros países africanos de língua portuguesa - é a sua "aposta séria" para os próximos tempos. O que não o impede de estar a criar temas para o próximo disco, cujo tema gira à volta dos livros, e que deseja concluir até ao fim do ano.

Em paralelo aos concertos, Missangas foi reeditado em CD. Tem um novo livreto, que inclui recortes de imprensa da época e uma fotografia, em Goa, de um outdoor (pintado à mão) do cantor. "É o melhor cartaz da minha vida", diz.


João Afonso - 20 anos Missangas

Hoje, às 21.30

Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra

Bilhetes: 10 euro

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