As "minas de ouro" da Índia: Tecnologias de Comunicação e Informação (TCI); Investigação & Desenvolvimento (I&D)
Thierry Laporte, CEO da Wipro, a 3ª. maior Empresa de TI indiana, com mais de 210.000 trabalhadores, fez duas afirmações rotundas, numa entrevista:
1. "A Índia está a formar mais Engenheiros que a América (US), a Alemanha, UK e a França juntos, e a qualidade do talento na Índia é realmente forte."
2. "A India tem, de longe, a melhor concentração de talento do mundo".
Sabíamos que a Índia era um pool importante de especialistas em TI. Agora ganha mais peso essa convicção, com o apreço de Laporte. Ele, durante a pandemia foi capaz de reorganizar e dinamizar a Wipro, mesmo de longe, fazendo-a crescer a níveis elevados.
Há uns anos um importante diário indiano afirmava que uma alta percentagem dos engenheiros formados na Índia não "eram empregáveis". Foi quando pessoas de iniciativa, com preocupação social, tentaram soluções para os requalificar ou completar a sua formação para que fossem empregáveis. Há mesmo boas App e programas de estudo via internet, para ajudar a superar lacunas, ajudando a melhorar o nível de conhecimentos e de capacidades, entre elas as soft-skills, para que cada um, nas entrevistas de seleção, não fique mirrado e possa evidenciar os seus pontos fortes.
Há uma grande variedade de Instituições de formação de Engenheiros em toda a Índia, totalizando largos milhares, com grande exigência nos exames de admissão em muitos casos e, noutros casos, com menor exigência. Daí que a formação recebida possa não ser uniforme e necessite de ser completada.
Afirmava Laporte que na Wipro "iremos provavelmente aproximar-nos dos 30% de crescimento no terceiro trimestre e penso que continuaremos a crescer bem".Todas as empresas de TI apresentam na Índia elevadas taxas de crescimento, com a digitalização em alta procura.
A atividade de TI e de serviços associados, começou na Índia no ano 1968, com a TCS-Tata Consultancy Services; veio depois a HCL, em 1976, a Infosys e a Wipro em 1981, todas acompanhadas de uma miríade de outras pequenas que foram florescendo e especializando-se.
Hoje em dia, cerca de 4,6 milhões de especialistas trabalham em TI, dos quais 25% nas quatro maiores (TCS, Infosys, Wipro e HCL), as quais irão recrutar mais de 100.000 este ano.
Um dos problemas sérios é a alta taxa de rotação que se vem verificando no setor, chegando aos 20%. Os que deixam a Empresa tiveram boas ofertas de remuneração e outros benefícios. A rotação significa gasto de tempo para encontrar substituição, e é ver sair quem leva consigo conhecimentos específicos do trabalho.
Talvez na Índia isso tenha mais de positivo que de negativo, no seu conjunto: os que são convidados deram provas de um bom domínio da sua área, ou deter qualidades que os tornam alvos de convite. Desse ponto de vista isso é bom, pois fomenta em todos o desejo de se especializarem, pois pode surgir alguma boa oportunidade. Isso dinamiza todo o ambiente de talentos e cabe à empresa criar incentivos para que não saiam, como pode ser um plano de opção pelas ações da empresa.
Quase todas as empresas recrutam jovens ao sair das Universidades e uma parte vão buscar ao mercado de trabalho, isto é, ás outras empresas, numa pequena percentagem. Daí que a rotação não levante grandes polémicas, pois todos precisam de pessoas bem preparadas... e todos vão buscá-las ao "mercado de trabalho".
O campo das comunicações acabou por ser um bónus para a Índia que estava muito atrasada neste domínio. Em 1995 quando se liberalizou o setor dando entrada a operadores privados, haveria pouco mais de 5 milhões de linhas rede fixa, funcionando muito mal. Com a telefonia móvel veio um forte progresso, acompanhado da competição entre os operadores para conseguirem mais assinantes. Até essa altura os incumbentes eram empresas do Estado, com proteção dos políticos; agora entrou uma nova geração de empreendedores privados, ávida de mostrar a sua valia e de por o país na modernidade.
Aproveitando as vantagens técnicas e organizativas e, sobretudo o efeito de escala, começaram a passar parte dos seus benefícios aos clientes, com custos mais baixos na utilização. Cada movimento de redução trazia uma vaga de novos assinantes, aos milhões; os outros operadores tinham de acompanhar nas tarifas, para não perderem os seus assinantes. Desta forma o número de utilizadores foi crescendo até alcançar hoje mais de 1150 milhões de linhas de rede móvel e pouco mais de 20 milhões de linhas de rede fixa.
Talvez seja o serviço de que mais se necessitava e que melhor correspondeu. Dava-se aqui o que o Prof. C. K. Prahalad chamou a "riqueza na base da pirâmide", pois numa base muito ampla e pobre, ainda que cada um gaste pouco e deixe pequena margem, o conjunto deles, aos milhões, deu para melhorar muito as receita se lucros das operadoras.
É atualmente o setor com custos de aquisição e de funcionamento dos mais baixos do mundo, com consequências importantes para a economia, para as atividades empresariais de marketing, para um rápido crescimento do e-commerce, e para a solução de problemas de isolamento e solidão na pandemia.
Os utilizadores da internet estão em crescimento acelerado e eram mais de 750 milhões (em 2020), com ampla utilização de dados também.
As palavras de Thierry Laporte citadas, aplicam-se totalmente ao setor de I&D com ampla presença de Multinacionais que se instalam na Índia, criando os seus GCC-Global Captive Centres.
Há atualmente mais de 1750 GCC em laboração, esperando-se mais de 500 até 2025. A Índia dispõe de pessoas muito qualificadas para a digitalização, preparando as indústrias para o futuro proximo, com utilização de AI-Inteligencia artificial, ML-Machine learning, IoT-Internet of things e Robótica.
O setor irá empregar entre 1,8 a 2,0 milhões de pessoas, em 2025, das atuais 1,38 milhões (Cfr. Nasscom & Zinnov). ER&D (Investigação em Engenharia e Desenvolvimento), com 55% das GCC mostra como as tecnologias digitais estão a criar novas fontes de receitas para os ER&D cativos.
A India é o país com disponibilidade de Investigadores de muito boa formação nas suas Instituições Universitárias, de grande altura. Há abundância de oferta e os valores da remuneração, comparados com a Europa ou os EUA, são ainda um fração deles. Além de que os Cientistas Indianos trazem hábitos de trabalho,disciplinado, exigente e inteligente, com uma capacidade de adaptação que os torna bem acolhidos em qualquer ambiente.
Professor da AESE-Business School (Lisboa) e do I.I.M. Rohtak (Índia).