As lendasda vidao concerto dos u2 em vilar de mouros
Há quem tenha escutado Maria Callas a interpretar La Traviata no São Carlos, visto Miles Davis a solar em Funky Tonk no primeiro Cascais-Jazz, assistido aos Genesis a apresentarem, em todo o seu esplendor, The Lamb Lies Down on Broadway no Dramático de Cascais. Terão presenciado, pois, momentos que se inseriram nas lendas da música em Portugal - e entraram na galeria dos cidadãos que são invejados por aqueles que gostariam de lá ter estado!
Quem tinha vinte anos em 1982 também pode ter sido um dos 20 ou 30 mil que foram a Vilar de Mouros. E, nesse caso, recordar a música elaborada dos Echo & The Bunnymen, a magia dos Durutti Column, a desbunda cósmica do free jazz da Sun Ra Archestra, o frenesim musical dos Rip Rig & Panic, a sonoridade encantatória dos A Certain Ratio, o gravador em palco dos The Gist (sucessores dos Young Marble Giants) que escandalizou parte do público, os Stranglers a recusarem-se a tocar La Folie.
Nada disso importa! O que faz inveja aos novos foi ter visto uma banda irlandesa, na época com a projecção das outras, que tinha um vocalista endiabrado, pois tanto subia a uma torre de colunas como puxava para o palco uma loura para dançar com ele naquela noite de 3 de Agosto. Como se chamava o rapaz da T-Shirt, que tinha nessa altura 22 anos? Paul David Hewson? Não! Bono!
Outros tempos. O crítico da revista Música & Som escrevia que Bono "não será, talvez, o monstro de palco que sempre sonhou ser" e The Edge "não é ainda Tom Verlaine" (guitarrista dos Television). Após uns 150 milhões de discos vendidos (isto é, mais que os The Who ou que os Police), será verdade que o Bono convidou mesmo aquela gente a ir a sua casa, se um dia passassem por Dublim?