As imagens do Messias

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Desde que, logo no tempo do mudo, o cinema começou a abordar temas religiosos, que a representação de Jesus Cristo no cinema se tem pautado por uma fidelidade reverente à iconografia da pintura, nomeadamente a medieval e a renascentista. Mas também, nalgumas ocasiões e involuntariamente, pela reprodução do kitsch das imagens do Messias reproduzidas em massa para uso dos cristãos. É o caso do Cristo interpretado por Jeffrey Hunter em O Rei dos Reis (1961), de Nicholas Ray cabelo louro e olhos azuis, muito pouco humano mas também sem dimensão divina. Bem diferente é o solene Cristo de Robert Powell em Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli (1977), que poderia perfeitamente ter saído da tela de um qualquer grande mestre clássico para o ecrã do cinema.

Se quisermos um Cristo mais humanizado, terra-a-terra e logo mais controverso, temos que nos referir ao cinema europeu, nomeadamente a O Evangelho Segundo S. Mateus, de Pasolini (1964), a A Via Láctea (1969), do genial blasfemo que era Luis Buñuel, ou ainda a A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese (1988).

Foi preciso que Mel Gibson, um católico tradicionalista, filmasse, em A Paixão de Cristo (2004), um Cristo brutal e graficamente massacrado no decurso da Paixão, para que houvesse uma ruptura com todas as anteriores representações do Messias no cinema, bíblico ou não. O Cristo personificado por Jim Caviezel é um homem que só se tornará em Deus após a morte, e Gibson reclama-o para a Humanidade através da extensão e da profundidade do seu sofrimento.

Eurico de Barros

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