Dois ciclos terminaram no Mundial da Rússia. Um corresponde às equipas que dominaram os últimos dez anos do futebol, o outro foi a despedida de uma geração excecional, tão boa quanto a melhor de toda a história deste desporto. A precoce eliminação da Alemanha (na fase de grupos), da Espanha e de Portugal - os dois nos oitavos-de-final - significa o final de um ciclo que começou com a vitória da seleção espanhola no Europeu 2008 e prosseguiu com outros êxitos: o Mundial 2010 e o Europeu 2012. A Alemanha ganhou o trono em 2014 com a vitória no Mundial e a sua inesquecível lição ao Brasil em Belo Horizonte. Portugal juntou-se dois anos depois, com o triunfo no Europeu de França, às grandes equipas dos últimos anos. Todas estas seleções já regressaram a casa, cada uma com os seus dramas particulares, mas com um denominador comum: o adeus dos seus jogadores mais significativos..Os últimos moicanos da esplêndida seleção espanhola anunciaram a sua retirada internacional. A hegemonia da Espanha assentou no carácter singular do seu jogo coletivo. Nunca dependeu de uma grande estrela. A sua força residia na cadeia de talento que articulava o seu jogo, desde Casillas a Villa. Pelo meio, vários nomes para a história do futebol: Puyol, Piqué, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Busquets, Xavi, Iniesta, Cazorla, David Silva, Cesc Fàbregas e Fernando Torres. Nenhum deles estará no Mundial do Qatar, em 2022, a não ser que Busquets aguente o infernal ritmo de competições que mantém desde 2008..Impressionam pela quantidade e pela qualidade dos nomes da geração dourada. Também impressionam os seus sucessores. Ainda que venham de equipas com numerosos êxitos nos campeonatos de sub-21 e sub-19, nenhum deles se aproximou da categoria e da personalidade dos campeões espanhóis. Sentiram um insuperável horror ao vazio, que agora se multiplicará com a anunciada despedida internacional de Iniesta, David Silva e Piqué. Os adeptos espanhóis entraram em pânico. Não gostam do que veem. Futebolistas como De Gea, Carvajal, Koke, Thiago Alcantara e Asensio fracassaram no Mundial da Rússia. A maioria deles também fracassou no Euro 2016. A Espanha volta a depender dos êxitos dos seus grandes clubes. Um episódio explica a debilidade atual: a contratação do selecionador, Julen Lopetegui, pelo Real Madrid dois dias antes de começar o Mundial. Um treinador firme e confiante jamais abandonaria uma seleção forte e ambiciosa..O fracasso da Alemanha tem menos explicação que o da Espanha. Nos bons e nos maus momentos, os alemães sempre conseguiram competir ferozmente. Gerações mais discretas, como a dos anos 1990, conquistaram o Europeu 1996. As suas melhores fornadas nunca dececionaram. A última parecia boa de verdade. A Alemanha ganhou o Mundial 2014 com bom futebol e excelentes praticantes. A renovação parecia assegurada por Ter Stegen, Sané, Draxler, Kimmich, Brandt, Goretzka e Werner, brilhantes na última Taça das Confederações. Dizia-se que a Alemanha dispunha de duas grandes equipas, e cada uma delas com capacidade de ganhar o Mundial. O desastre foi colossal. Pela primeira vez desde 1938 foi eliminada na primeira fase. Os veteranos funcionaram mal, mas os jovens, com exceção de Kimmich, sofreram do mesmo problema que os espanhóis. A renovação nas grandes equipas ou seleções é sempre um processo angustiante..Cristiano Ronaldo, que é um otimista por natureza, provavelmente pensa em jogar o Mundial 2022. Diz que tem uma idade biológica de 23 anos, então no Qatar terá 27, a melhor idade para um futebolista. A realidade é mais pessimista. Em 2022 Ronaldo celebrará 37 anos. E já terá deixado para trás os seus melhores dias. Com ele evapora-se outra excelente geração, liderada por Pepe, um dos melhores centrais dos últimos 30 dias. Bruno Alves, Fonte e Moutinho também enfrentam o ocaso. Portugal terá de reconstruir a equipa como a Espanha fez há dez anos. Não dependerá de uma estrela planetária, mas sim de um conjunto de talentos. Não faltam jogadores interessantes como Bernardo Silva ou Gonçalo Guedes, mas uma coisa é ter talento e outra é ter a personalidade necessária para suceder aos velhos mestres. Em Espanha e na Alemanha isso não foi conseguido. Veremos o que ocorre em Portugal.
Dois ciclos terminaram no Mundial da Rússia. Um corresponde às equipas que dominaram os últimos dez anos do futebol, o outro foi a despedida de uma geração excecional, tão boa quanto a melhor de toda a história deste desporto. A precoce eliminação da Alemanha (na fase de grupos), da Espanha e de Portugal - os dois nos oitavos-de-final - significa o final de um ciclo que começou com a vitória da seleção espanhola no Europeu 2008 e prosseguiu com outros êxitos: o Mundial 2010 e o Europeu 2012. A Alemanha ganhou o trono em 2014 com a vitória no Mundial e a sua inesquecível lição ao Brasil em Belo Horizonte. Portugal juntou-se dois anos depois, com o triunfo no Europeu de França, às grandes equipas dos últimos anos. Todas estas seleções já regressaram a casa, cada uma com os seus dramas particulares, mas com um denominador comum: o adeus dos seus jogadores mais significativos..Os últimos moicanos da esplêndida seleção espanhola anunciaram a sua retirada internacional. A hegemonia da Espanha assentou no carácter singular do seu jogo coletivo. Nunca dependeu de uma grande estrela. A sua força residia na cadeia de talento que articulava o seu jogo, desde Casillas a Villa. Pelo meio, vários nomes para a história do futebol: Puyol, Piqué, Sergio Ramos, Xabi Alonso, Busquets, Xavi, Iniesta, Cazorla, David Silva, Cesc Fàbregas e Fernando Torres. Nenhum deles estará no Mundial do Qatar, em 2022, a não ser que Busquets aguente o infernal ritmo de competições que mantém desde 2008..Impressionam pela quantidade e pela qualidade dos nomes da geração dourada. Também impressionam os seus sucessores. Ainda que venham de equipas com numerosos êxitos nos campeonatos de sub-21 e sub-19, nenhum deles se aproximou da categoria e da personalidade dos campeões espanhóis. Sentiram um insuperável horror ao vazio, que agora se multiplicará com a anunciada despedida internacional de Iniesta, David Silva e Piqué. Os adeptos espanhóis entraram em pânico. Não gostam do que veem. Futebolistas como De Gea, Carvajal, Koke, Thiago Alcantara e Asensio fracassaram no Mundial da Rússia. A maioria deles também fracassou no Euro 2016. A Espanha volta a depender dos êxitos dos seus grandes clubes. Um episódio explica a debilidade atual: a contratação do selecionador, Julen Lopetegui, pelo Real Madrid dois dias antes de começar o Mundial. Um treinador firme e confiante jamais abandonaria uma seleção forte e ambiciosa..O fracasso da Alemanha tem menos explicação que o da Espanha. Nos bons e nos maus momentos, os alemães sempre conseguiram competir ferozmente. Gerações mais discretas, como a dos anos 1990, conquistaram o Europeu 1996. As suas melhores fornadas nunca dececionaram. A última parecia boa de verdade. A Alemanha ganhou o Mundial 2014 com bom futebol e excelentes praticantes. A renovação parecia assegurada por Ter Stegen, Sané, Draxler, Kimmich, Brandt, Goretzka e Werner, brilhantes na última Taça das Confederações. Dizia-se que a Alemanha dispunha de duas grandes equipas, e cada uma delas com capacidade de ganhar o Mundial. O desastre foi colossal. Pela primeira vez desde 1938 foi eliminada na primeira fase. Os veteranos funcionaram mal, mas os jovens, com exceção de Kimmich, sofreram do mesmo problema que os espanhóis. A renovação nas grandes equipas ou seleções é sempre um processo angustiante..Cristiano Ronaldo, que é um otimista por natureza, provavelmente pensa em jogar o Mundial 2022. Diz que tem uma idade biológica de 23 anos, então no Qatar terá 27, a melhor idade para um futebolista. A realidade é mais pessimista. Em 2022 Ronaldo celebrará 37 anos. E já terá deixado para trás os seus melhores dias. Com ele evapora-se outra excelente geração, liderada por Pepe, um dos melhores centrais dos últimos 30 dias. Bruno Alves, Fonte e Moutinho também enfrentam o ocaso. Portugal terá de reconstruir a equipa como a Espanha fez há dez anos. Não dependerá de uma estrela planetária, mas sim de um conjunto de talentos. Não faltam jogadores interessantes como Bernardo Silva ou Gonçalo Guedes, mas uma coisa é ter talento e outra é ter a personalidade necessária para suceder aos velhos mestres. Em Espanha e na Alemanha isso não foi conseguido. Veremos o que ocorre em Portugal.