Figuras que marcam os primeiros 100 dias da presidência Trump

A administração Trump cumpre no sábado 100 dias nos comandos da Casa Branca e foram várias as figuras que, ao lado do presidente, marcaram estes primeiros meses da nova liderança política nos Estados Unidos (EUA).
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Um estratega apelidado por alguns como "o operacional político mais perigoso" dos EUA, um novo juiz do Supremo Tribunal conhecido pelas suas posições pró-vida e contra a eutanásia, uma "primeira filha" e um genro com uma forte influência no círculo presidencial e na política externa de Washington e uma antiga crítica que foi nomeada embaixadora junto das Nações Unidas são algumas das figuras que têm estado sob os holofotes mediáticos desde a tomada de posse do Presidente Donald Trump, a 20 de janeiro.

Neste painel de personalidades também estão um vice-presidente que fez "cara feia" numa visita à fronteira entre as duas Coreias, um ex-conselheiro para a segurança nacional com contactos alegadamente inapropriados com a Rússia, um chefe de diplomacia com pouco protagonismo e um porta-voz da Casa Branca que, a par de outras polémicas, pediu recentemente desculpas por ter comparado o uso de armas químicas na guerra civil na Síria, ao Holocausto e a Hitler.

As figuras dos primeiros 100 dias da Presidência Trump:

- Mike Pence: Cristão, conservador e republicano "por esta ordem de importância", respondeu, numa entrevista, quando lhe foi pedida uma descrição da sua personalidade. Pence, ex-governador do estado do Indiana, aceitou a nomeação para ser o vice-presidente de Trump em julho de 2016 e, na altura, foi apresentado como um político tradicional com credenciais legislativas e executivas que ia agradar à influente ala ultraconservadora do Partido Republicano.

No início de fevereiro, Pence protagoniza um momento inédito na história política americana, quando usa o seu voto de qualidade no Senado (câmara alta do Congresso) para ultrapassar a oposição democrata (e de duas senadoras republicanas) à milionária indicada por Trump para a pasta da Educação, Betsy DeVos. Até então, nenhuma administração tinha tido a necessidade de recorrer ao voto de qualidade do vice-presidente para fazer aprovar a nomeação de um governante.

Em plena "guerra de nervos" com o regime norte-coreano, Pence realiza em abril um périplo por países da Ásia-Pacífico, com uma paragem na Coreia do Sul. Numa visita à zona desmilitarizada entre as duas Coreias, um dia depois de Pyongyang ter falhado o lançamento de um novo míssil, Pence endurece o discurso e afirma que a "era da paciência estratégica acabou". E reforça: "É melhor para a Coreia do Norte não testar a determinação e o poder das Forças Armadas dos Estados Unidos nesta região".

- Stephen 'Steve' Bannon: Nomeado diretor-geral da campanha de Trump em agosto de 2016, o ex-diretor do site de notícias de direita radical Breitbart News foi o grande estratega da mensagem política do então candidato presidencial republicano. Após a vitória de Trump nas eleições de novembro, Bannon, de 63 anos, foi nomeado chefe de estratégia e conselheiro sénior da Casa Branca, uma escolha que levantou duras críticas das organizações antirracistas e dos democratas.

As preocupações e as críticas intensificaram-se ainda mais quando Trump, em finais de janeiro, decidiu promover Bannon ao exclusivo Conselho Nacional de Segurança (NSC, o principal fórum de aconselhamento do Presidente em matérias de segurança), em detrimento de altas patentes ligadas às agências de serviços secretos e às Forças Armadas.

No início de abril, é anunciada a saída de Bannon do NSC. Fontes não identificadas da Casa Branca justificaram então que o ex-diretor do Breitbart já tinha cumprido a sua tarefa naquele órgão, nomeadamente 'monitorizar' Michael Flynn, o conselheiro para a segurança nacional que se demitiu em fevereiro.

- Michael T. Flynn: Próximo de Trump, o general na reforma e antigo diretor dos serviços secretos militares é convidado em novembro de 2016 para ocupar o cargo de conselheiro de Segurança Nacional.

A 13 de fevereiro deste ano, Flynn renuncia ao cargo, após informações de que teria mentido, nomeadamente ao vice-presidente Mike Pence, sobre conversações mantidas em 2016 com o embaixador russo em Washington. Durante essas conversas, Flynn terá mencionado as sanções contra Moscovo.

Em finais de março, notícias dão conta que Flynn estaria disposto a falar com a polícia federal norte-americana (FBI) e com as comissões de inquérito do Congresso sobre as conversas com os russos, mas que pede algo em troca: a imunidade. Em abril, uma nova polémica envolve o ex-conselheiro de Trump: Flynn teria recebido dinheiro de três empresas russas, mas não informou a Casa Branca sobre tal matéria.

- Rex Tillerson: Confessou ter ficado "boquiaberto" quando Trump lhe fez o convite para liderar o Departamento de Estado e admitiu que só assumiu a pasta porque a mulher o convenceu. Sem qualquer experiência diplomática ou governativa, Tillerson, então presidente-executivo do gigante petrolífero Exxon Mobil, foi apresentado ao mundo como próximo do Presidente russo, Vladmir Putin, e do Kremlin.

As primeiras semanas de Tillerson à frente da diplomacia americana foram marcadas pela falta de protagonismo do próprio secretário de Estado, cujo Departamento foi um dos principais visados dos cortes orçamentais propostos por Trump. Não esteve presente em visitas de governantes estrangeiros à Casa Branca, não apareceu nas fotografias quando o Presidente assinou, por exemplo, o controverso decreto presidencial que visava impedir a entrada de cidadãos de um conjunto de países muçulmanos nos EUA, bem como esteve ausente em eventos do próprio Departamento.

Dos nove países que visitou até ao momento, destaque para a difícil tarefa que este "velho conhecido" dos russos teve quando, em meados de abril, se deslocou a Moscovo. A visita de Tillerson aconteceu dias depois do ataque americano a uma base aérea síria usada pelos aliados russos, em reação um ataque químico atribuído a Damasco, e após Washington ter pedido à Rússia para rever a sua aliança com o líder sírio Bashar al-Assad. Após um encontro não agendado com Putin, e de cara fechada, Tillerson declarou que as relações russo-americanas estavam no seu ponto mais baixo de sempre. A "guerra de nervos" com a Coreia do Norte e os recentes avisos ao Irão são outros dos dossiês que dominam a agenda de Tillerson.

- Neil Gorsuch: A recente confirmação deste juiz federal conservador de 49 anos (no passado dia 07 de abril) para ser o nono juiz do Supremo Tribunal dos EUA está a ser encarada como a principal vitória dos primeiros 100 dias do mandato presidencial de Trump.

Para tal, e para conseguir a confirmação de Gorsuch pelo Senado, a maioria republicana que domina a câmara alta do Congresso alterou unilateralmente as regras de votação daquele órgão. Com esta jogada, Trump e a ala republicana repuseram o domínio conservador que predomina a mais alta instância judicial dos EUA desde 1972: cinco magistrados conservadores e quatro magistrados progressistas.

Conhecido pelas suas posições pró-vida e contra a eutanásia, Neil Gorsuch prometeu ser "um servidor fiel da Constituição e das leis da grande nação" norte-americana.

- Jared Kushner: Com 36 anos, o genro de Trump já foi apelidado de "guardião" da política externa da atual administração norte-americana. Sem qualquer experiência política antes da eleição do sogro, Kushner foi nomeado como um dos mais altos conselheiros da Casa Branca ainda durante o período de transição.

Desde então, tem sido o principal interlocutor com o México e uma peça fundamental na aproximação com a China e no dossiê relacionado com o processo de paz no Médio Oriente. No início de abril, o marido da filha mais mediática de Trump (Ivanka) liderou uma delegação norte-americana ao Iraque, onde se reuniu com líderes iraquianos e curdos e discutiu a luta contra o grupo extremista Estado Islâmico.

A imprensa internacional fala que nos corredores da Casa Branca existe um conflito ideológico entre a fação do estratega Steve Bannon (nacionalista e protecionista) e a de Kushner, considerado mais moderado e mais favorável à globalização.

- Ivanka Trump: Desde que o pai tomou posse a 20 de janeiro, a "primeira filha" tem sido uma presença frequente e atípica na Casa Branca. É habitual acompanhar o Presidente em atos oficiais e em reuniões com líderes internacionais, como aconteceu com a chanceler alemã, Angela Merkel, ou com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em fevereiro passado.

Em março, a notícia de que Ivanka teria o seu escritório próprio na ala oeste da Casa Branca veio confirmar que a empresária, que terá acesso a informação confidencial, iria aumentar a sua influência no círculo presidencial. Na mesma altura foi indicado que a filha mais velha do Presidente não teria qualquer cargo oficial, nem iria receber qualquer remuneração salarial.

Numa recente entrevista a um jornal britânico, o seu irmão Eric disse que Ivanka terá sido determinante na decisão de Trump de lançar mísseis contra uma base militar na Síria, em resposta a um ataque químico atribuído ao regime de Damasco.

- Nikki Haley: A sua nomeação para ser a embaixadora dos EUA junto das Nações Unidas causou na altura surpresa, não só por ter sido uma das vozes mais críticas de Trump durante a campanha presidencial, mas também pela sua pouca experiência em política externa.

Nas primeiras declarações que fez aos jornalistas na sede da ONU, em janeiro, a ex-governadora da Carolina do Sul deixou dois importantes recados: a relação dos EUA com aquela organização ia entrar numa nova fase, nomeadamente ao nível das contribuições, e Washington ia "anotar" os nomes dos seus críticos.

Nas últimas semanas, a embaixadora tem apontado duras palavras especialmente contra duas potências que também detêm poder de veto, a Rússia e a China, a propósito de cenários como a Ucrânia, Síria ou Coreia do Norte. No início de abril, e com os EUA a assumirem a presidência rotativa do Conselho de Segurança, Haley protagonizou uma intervenção emotiva quando mostrou imagens de crianças vítimas de um ataque químico em Idlib, na Síria, e impulsionou uma mudança drástica da atitude de tolerância da administração Trump em relação ao líder Bashar al-Assad.

-Sean Spicer: O porta-voz da Casa Branca ganhou protagonismo logo na primeira conferência de imprensa da era Trump, um dia depois da tomada de posse. Diante de uma plateia de jornalistas, Sean Spicer acusou os media de terem mentido e garantiu que a cerimónia teve a maior assistência de uma tomada de posse "de sempre". Em sua defesa iria surgir outra figura próxima do círculo de Trump, a conselheira e ex-gestora da campanha presidencial Kellyanne Conway, que afirmou então que Spicer não forneceu informações falsas, mas sim "factos alternativos".

A postura hostil e agressiva de Spicer na sala de imprensa da Casa Branca tornou-se uma imagem de marca do porta-voz e acabou por ser satirizada por uma atriz de Hollywood num programa de humor do horário nobre da televisão americana. Envolveu-se numa nova polémica quando foi abordado numa loja em Washington por uma mulher a propósito das políticas de Trump e reagiu com uma frase que lhe valeu acusações de racismo: "Que grande país este é, que até lhe permite estar cá!".

A propósito da utilização de armas químicas na Síria, o porta-voz provocou nova controvérsia e indignação mundial quando, no início de abril, comparou o uso de armas químicas na guerra civil síria e o presidente Bashar al-Assad ao Holocausto e a Hitler. Nos dias seguintes, desdobrou-se em desculpas e afirmou que tinha "traído a confiança" de Trump com tal comparação.

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