As estudantes da Nigéria novamente sob ataque
Embora fiquem a cerca de 240 quilómetros de distância no mato do Norte da Nigéria, as cidades de Chibok e Dapchi têm um vínculo trágico: ambas têm sido alvo de raptos em larga escala de jovens estudantes do sexo feminino pelo grupo extremista islâmico Boko Haram. Após uma campanha global de três anos para libertar as 276 meninas raptadas de Chibok em 2014 - um acontecimento que revelou ao mundo a agenda sádica do Boko Haram -, 110 meninas desapareceram em Dapchi no mês passado em circunstâncias idênticas. Em ambos os casos, os membros do Boko Haram, que na língua hauçá significa basicamente "A educação ocidental é um pecado", destruíram a tiro uma escola quando invadiram as instalações para roubar alimentos e outras provisões. A tentativa do grupo para instituir um estado islâmico de linha dura no Nordeste da Nigéria já fez pelo menos 20 mil mortes e deixou mais de 2,6 milhões de desalojados desde 2009.
Outro ponto em comum entre os dois ataques é que o destino das meninas foi, durante vários dias, uma incógnita. Em Chibok, finalmente descobriu-se que as 276 raparigas haviam sido metidas em camiões e levadas. Uma fotografia do grupo após o rapto, a preto e branco e pouco nítida, que tinha sido tirada por um dos terroristas, provocou indignação a nível global, provocando o movimento Bring Back Our Girls (Devolvam as Nossas Meninas).
Em Dapchi foi reportado inicialmente que 50 raparigas foram dadas como desaparecidas depois de os terroristas terem invadido a faculdade pública de Ciências e Técnica. Depois, uma declaração do governo do Estado de Yobe anunciou que o exército nigeriano tinha resgatado as raparigas. Mas os festejos transformaram-se em lágrimas quando foi emitida uma retração declarando que as meninas não tinham sido encontradas. Pior ainda, de acordo com um assessor do governador do Estado, o "governo ainda não tem informações credíveis sobre se alguma das estudantes foi feita refém pelos terroristas".
O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, classificou o incidente como um "desastre nacional" e prometeu o envio de tropas e aeronaves de vigilância para procurar as meninas desaparecidas, bem como uma revisão completa das circunstâncias da invasão. Os pais das crianças - como o pai de Fatima Manzo, que tem apenas 16 anos - formaram a sua própria associação para as procurar.
Há quatro anos fiz parte da campanha para libertar as meninas de Chibok. Numa petição que obteve um milhão de assinaturas quase imediatamente, pedimos aos governos ocidentais que apoiassem missões de vigilância e reconhecimento, para localizar e resgatar as vítimas, que estavam a ser escondidas na Nigéria e em países vizinhos.
Naquela época, a Global Business Coalition for Education (Coligação Empresarial Global para a Educação) publicou um relatório sobre escolas seguras na Nigéria. A coligação também criou uma parceria entre líderes empresariais da Nigéria, o governo nigeriano e doadores internacionais, em cooperação com a UNICEF, para estabelecer programas destinados a tornar as escolas seguras para as crianças nigerianas. Como parte da Iniciativa Escolas Seguras da coligação, foram formados grupos comunitários, foram implementadas reformas de infraestruturas e as meninas receberam opções escolares seguras. No último mês de maio, 82 meninas de Chibok foram libertadas, em troca de cinco comandantes do Boko Haram.
As raparigas começaram a voltar para as salas de aula depois de anos de medo até de atravessar um recreio escolar. A doutrina das escolas seguras - uma nova ideia invulgar numa região bloqueada pelo confronto com o Boko Haram - parecia estar gradualmente a tomar conta da situação. Foram construídas cercas e outras instalações de segurança física para manter os invasores à distância e as telecomunicações móveis foram usadas como sistemas de alerta precoce.
Mas a realidade era que mais de cem meninas de Chibok permaneceram em cativeiro, com paradeiro desconhecido. Além disso, seis milhões de raparigas nigerianas ainda não vão à escola. O sequestro de mais 110 estudantes do sexo feminino provavelmente só piorará a situação, não apenas para elas e para as suas famílias mas para todos cujos temores sobre a segurança das escolas foram agora reacendidos.
Quanto às novas vítimas de rapto, sabemos qual o seu destino provável se não forem resgatadas rapidamente. As meninas de Chibok que escaparam ou foram libertadas disseram em entrevistas que as sequestradas eram chicoteadas para as convencer a casar. Algumas foram levadas como concubinas por membros do grupo. Muitas das que foram casadas à força poderão nunca escapar ao cativeiro.
A comunidade internacional deve fazer tudo o que for possível para apoiar os esforços do governo nigeriano para salvar as meninas de Dapchi, inclusive fornecendo vigilância aérea para ajudar a localizá-las e aos seus captores. Ele disse que vai redobrar os esforços para evitar a reincidência de tais sequestros. Isso deve significar mais apoio internacional para derrotar o Boko Haram e a sua ideologia destrutiva, e uma Iniciativa de Escolas Seguras renovada, com o objetivo de garantir que seja sustentável a longo prazo. As crianças e jovens das escolas não merecem nada menos do que isso.
Ex-primeiro-ministro do Reino Unido. Foi ministro das Finanças do Reino Unido e é enviado especial das Nações Unidas para a Educação Global e Presidente da Comissão Internacional do Financiamento da Oportunidade para uma Educação Global. É presidente do conselho consultivo da Fundação Catalyst.
© Project Syndicate, 2018