A cumplicidade de Pat Metheny e Ron Carter
Não trocaram uma única palavra com a plateia - casa cheia - do Parque Ribeirinho, em Amarante. Justiça lhes seja feita, ninguém pareceu sentir falta. O concerto que durou cerca de uma hora e um quarto foi um contínuo diálogo, frente a frente, entre dois grandes nomes da música. O guitarrista e o contrabaixista americanos Metheny e Carter entraram em palco no último dia do festival Mimo com uma depurada Manhã de Carnaval.
Num começo de quem não precisa de guardar trunfos, os dois tocaram o clássico All the things you are seguido de James, tema de Pat Metheny, músico de 51 anos e 20 prémios Grammy. Aqueles que usavam t-shirts com o seu nome logo festejaram aos primeiros acordes daquela que é uma das mais icónicas canções de Metheny.
Carter, que em agosto fará 80 anos, e que integrou o quinteto de Miles Davis nos anos 60, mostrou porque é um dos grandes contrabaixistas do nosso tempo, tocando ora temas como St Thomas, ora passando uma suite de Bach para violoncelo. Não havia solo seu, como de resto de Metheny, que não acabasse seguido por uma ovação.
A passagem de Metheny e Carter por Portugal teve como último ponto de paragem Amarante. Lu Araújo, diretora do Mimo, contou ao DN que esse foi um ponto de difícil negociação, uma vez que queria exclusividade de todos os nomes do cartaz, evitando que dessem também concertos em cidades como Lisboa ou o Porto.
Pat Metheny costuma referir-se a Carter como "um herói", tendo crescido a ouvir discos como Four and More, do Miles Davis Quintet. Os dois já tinham tocado juntos em trabalhos de músicos como Herbie Hancock, por exemplo, de quem ontem tocaram Cantaloupe Island.
Antes da cumplicidade dos dois americanos, uma outra, cerca de uma hora antes, e no mesmo palco: Pedro Burmester e Mário Laginha. Dois pianos, quatro mãos, e temas do próprio Laginha, como Um choro feliz, ou do compositor americano Samuel Barber. Numa homenagem a Bernardo Sassetti, que com os dois pianistas já formou um trio, os dois tocaram Sonho dos Outros, do compositor que morreu em 2012. No final, Laginha diria, mesmo sem microfone: "Para o Bernardo".
Burmester tocaria ainda, sozinho, Clair de Lune, de Débussy, "como só ele toca", diria logo depois Mário Laginha num concerto que terminou com Ravel, ainda sob o calor do sol de julho, no último dia da primeira edição do Mimo fora do Brasil.