As contradições do gestor intermédio
Quando se reflete sobre dois argumentos antagónicos, por um lado o ponto de vista de que os gestores intermédios constituiriam um obstáculo e, por outro, seriam eles os elementos facilitadores da mudança, como explicar então esta contradição?
Na perspetiva redutora, uma primeira explicação que pode estar associada é a de que normalmente os processos de mudança trazem consigo alterações ao nível da estrutura hierárquica, e os primeiros cuja função é posta em causa é justamente o nível intermédio. Por isso, para defenderem os seus postos de trabalho, tentam impedir que a mudança se concretize. Uma segunda explicação complementar encontra-se arreigada à visão tradicional atribuída ao papel deste nível de liderança, ao qual tradicionalmente se associam atributos como burocratas, controladores, supervisores, filtros entre o topo e a base; enfim, um conjunto de críticas habituais no dia-a-dia das organizações.
A explicação que pode ser encontrada na perspetiva de valor do seu papel aponta na necessidade de fazer emergir um novo paradigma da gestão intermédia alicerçado em cinco pontos: na mudança do seu papel encorajando à sua participação ativa; na transmissão de mais e com maior frequência da informação; na definição clara das suas missões; em assegurar a formação alinhada com este novo paradigma; e incentivar a incrementar mudanças visíveis no seio da sua equipa de trabalho.
Esta ideia de reposicionar o papel da liderança intermédia assume um papel cada vez mais relevante que merece reflexão no contexto de novas formas da organização do trabalho, e alguns estudos já feitos por diversos autores sustentam que o alinhamento das lideranças intermédias com a liderança de topo é fundamental para facilitar a mudança. Os líderes intermédios não são de forma alguma forças de bloqueio, mas sim parceiros estratégicos importantes para concretizar processos de mudança, devendo para o efeito "comprar" as ideias do topo e "vendê-las" à base, como se fosse um processo de intermediação. O "preço" como se deduz facilmente é, entretanto, poder igualmente vender para cima as ideias inovadoras da base, o que contraria a prática da sua instabilização, nos processos de mudança.
O desafio que se lança para um novo enquadramento dos gestores intermédios tem a ver justamente com a estratégia de reverter três grandes fatores: a tónica hoje colocada na inovação, o recurso cada vez maior ao trabalho de equipa, a noção cada vez mais abrangente da amplitude de controlo, e a importância crescente do uso da informação, sobretudo em contextos de relações remotas, que caracterizam a atual situação, torna esta questão crítica.
Assim sendo, para reposicionar este perfil hierárquico, é necessário reinventar o seu papel tornando-os "aceleradores" no desenvolvimento das suas equipas por forma a gerir o intenso fluxo de informação, potenciar o conhecimento e alavancar a inovação através de processos ágeis para o alcance dos objetivos desejados.
Docente universitário