As Cinquenta Sombras de Grey

A aparatosa estreia de <em>As Cinquenta Sombras de Grey</em>, com mais de 42 mil bilhetes pré-vendidos em Portugal, transformou a adaptação cinematográfica do <em>best-seller</em> de E. L. James num fenómeno de marketing global. Leia aqui as críticas de João Lopes, Nuno Camacho e Rui Pedro Tendinha ao filme de Sam Taylor-Johnson.
Publicado a
Atualizado a

JOÃO LOPES (Classificação 1/5)

Sexo, publicidade e pouco cinema

Muito barulho por nada... A adaptação do best-seller de E. L. James, narrando as aventuras sexuais de um milionário (Jamie Dornan) e uma estudante de literatura (Dakota Johnson), mais não consegue do que repetir os clichés de uma estética "erótica" filiada nos modelos correntes da publicidade a perfumes e outros produtos mais ou menos íntimos, afinal ela própria devedora das convenções cinematográficas que, em boa verdade, têm umas boas três décadas, uma vez que foram sistematizadas por um filme como Nove Semanas e Meia (1986), com Mickey Rourke e Kim Basinger. O mais curioso e preocupante de tudo isto é o reconhecimento do imenso poder (social e simbólico) de um marketing a que há que reconhecer uma invulgar capacidade de insinuação em todos os circuitos mediáticos e sociais. De resto, para além do registo desse fenómeno, a história do cinema não passará por aqui.

NUNO CAMACHO (Classificação 1/5)

Adaptação anódina de um best-seller de hipermercado

Como já foi dito, tudo o que aparece figurado em As Cinquenta Sombras de Grey já foi feito (e diríamos, aliás, mais bem feito) nos anos 80 por nomes como Zalman King ou Adrian Lyne. Agora fazer crer que um filme nulo e rudimentar como este é uma das estreias mais aguardadas dos últimos tempos só pode ser obra de máquinas de marketing poderosas que conseguem criar um fenómeno a partir de matéria-prima tão desoladoramente pobre (para usar uma metáfora dentro da lógica do filme, digamos que a salivação pavloviana responde desproporcionalmente a um estímulo muito fraco). Com uma estética publicitária digna de um anúncio de perfumes, uma encenação anódina e uma representação do sexo sem sombra de erotismo, As Cinquenta Sombras de Grey não tem mesmo ponta por onde se lhe pegue. Uma banalidade tépida que adapta com reverência o best-seller de hipermercado de E.L. James.

RUI PEDRO TENDINHA (Classificação 0/5)

Um triste Dia de São Valentim

Bondage e sado-masoquismo para virgens ofendidas. Chamaram a ex-artista plástica Sam Taylor-Johnson para dar veracidade feminina ao universo de E.L. James e o resultado é uma história da carochinha sem sensualidade. O paliativo do mistério de Grey é desperdiçado e tensão nem vê-la... Por outras palavras, a iniciação sexual da virgem Anastasia é sempre mole, mais vergastada no traseiro, menos vergastada... O argumento parece também destinado a memoráveis momentos de diálogos ridículos (fica a dúvida se não terá sido adaptado para futuros sketchs de sátira e gozo). Sam Taylor-Johnson parece perita em construir alta comédia involuntária, sobretudo quando se pede a Jamie Dornan alguma complexidade. Este erotismo de pacotilha nunca se alheia do maior dos equívocos ridículos...

As Cinquenta Sombras de Grey não é o primeiro embrulho de marketing pensado e feito para uma data. Nem tão pouco será o último. Que triste dia dos namorados...

[youtube:c8d2QeUszbs]

Ficha de Filme

Realizador: Sam Taylor-Johnson

Com: Dakota Johnson, Jamie Dornan

Ano: 2015

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt