As cimeiras estão de volta
Com a realização da XIIIª Cimeira Portugal-Brasil retoma-se uma rotina saudável, a de encontros ao mais alto nível político entre os nossos países, que não se verificava desde 2016.
Quase sete longos anos!
Todas as cimeiras são, por definição, importantes. Tempo de realizar e de projetar. Mas esta, atrevo-me a dizê-lo, vai mais além, pelo tempo que se impõe recuperar e porque tem na base uma relação especial.
É sempre útil ilustrar as afirmações com exemplos. E eles são felizmente bastantes.
Olhemos para as relações económicas. As exportações portuguesas para o Brasil atingiram, em 2022, um montante de quase mil milhões de euros, o mais alto desde 2018. Se juntarmos as importações do Brasil em igual período, temos um valor de quase seis mil milhões de euros. O Brasil é o segundo investidor estrangeiro em Portugal fora da União Europeia e o investimento português no Brasil vem crescendo sustentadamente. Empresas como a EDP, Galp ou a TAP têm no Brasil uma muito relevante carteira de negócios, e são milhares as nossas empresas registadas no Brasil. A realização de um fórum empresarial bilateral no contexto da cimeira constituirá certamente mais uma oportunidade para aprofundar conhecimentos e reforçar as relações económicas.
Olhemos também para o potencial formidável que a circunstância de ter sido criado recentemente o Instituto Guimarães Rosa oferece à cooperação com o Instituto Camões na promoção da nossa língua comum, designadamente nas organizações internacionais, com o objetivo em mente de tornar o português, um dia, uma língua oficial das Nações Unidas.
Olhemos ainda para um fenómeno que foi crescendo e agora está a atingir um patamar impensável há alguns anos. Teve início na semana passada o campeonato do escalão principal do futebol brasileiro, o "brasileirão". Das vinte equipas que vão competir, sete (!) são orientadas por treinadores portugueses. Desejo-lhes todo o sucesso. O Brasil exporta jogadores, muitos jogadores, para Portugal, e Portugal exporta cada vez mais treinadores para o Brasil.
Olhemos finalmente para a força da comunidade portuguesa no Brasil e da comunidade brasileira em Portugal. As vagas de emigração que vieram para o Brasil ao longo de mais de um século deixaram por este país uma marca tão forte que estamos a assistir a um fenómeno de procura intensa pela nacionalidade portuguesa por parte de segundas e terceiras gerações de descendentes dessas vagas de emigração, fazendo a comunidade de portugueses e luso-descendentes no Brasil ultrapassar o milhão de pessoas.
Hoje temos no Brasil uma nova forma de emigração, em regime de mobilidade, com quadros jovens e altamente qualificados que ocupam posições de topo no tecido empresarial brasileiro, assim perpetuando a presença portuguesa e a sua marca de qualidade no Brasil.
Ao mesmo tempo, em Portugal vivem já cerca de 300 mil cidadãos brasileiros, a maior comunidade estrangeira - na verdade não é bem estrangeira! - no nosso país. Este número não para de crescer. Assim se cumprirá o Acordo de Mobilidade da CPLP e as iniciativas legislativas que permitiram a sua concretização.
Mais exemplos se poderiam dar, se este espaço o permitisse. Da cooperação na área da indústria aeronáutica às centenas de protocolos de cooperação existentes entre instituições universitárias dos dois países, do número de turistas que cruzam todos os dias o oceano aos portugueses e brasileiros que trabalham em áreas de relevo como a saúde, ou aos interesses comuns no espaço da língua portuguesa ou da ibero-américa. Uma relação verdadeiramente de 360 graus.
As relações entre Portugal e o Brasil sempre foram singulares. Há 200 anos cada país seguiu o seu caminho, mas nunca deixámos de nos encontrar. Às vezes mais perto, às vezes um pouco mais longe.
Agora é tempo de um novo fôlego. Estamos entusiasmados com o presente e com muitas expetativas quanto ao futuro.
Porque as cimeiras estão de volta.
Embaixador de Portugal no Brasil