Árvore cortada, navio afundado: picos de tensão com Pyongyang

De um lado, Washington garante que "todas as opções estão na mesa", mas aposta na solução pacífica. Do outro, Pyongyang promete testar mísseis todas as semanas e ameaça com "guerra total". Mas ao longo da história já houve vários momentos de alta tensão na península coreana.
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O assassínio da primeira-dama sul-coreana

A guerra da Coreia (1950-53) terminara há pouco mais de duas décadas (apesar de os dois países continuarem tecnicamente em guerra até hoje) quando Yuk Young-soo foi assassinada por um simpatizante do Norte. A primeira-dama sul-coreana, mulher do terceiro presidente, Park Chung-hee, assistia às cerimónias do Dia da Independência em Seul quando foi baleada por Mun Se-gwang, cujo alvo, na realidade, era o seu marido. Desde que chegara ao poder, em 1963, Park protagonizara episódios de tensão com o Norte, inclusive com confrontos na zona desmilitarizada (DMZ) entre os dois países. Alvo de uma tentativa de assassínio por comandos do Norte em 1968, Park respondera criando uma unidade de elite para matar Kim Il-sung, o líder norte-coreano. Apesar de tudo, durante a ditadura de Park, Norte e Sul continuaram nos bastidores a negociar uma reunificação. Park acabaria por ser assassinado, em 1979, mas pelo seu próprio chefe da segurança.

A árvore, os soldados mortos e a demonstração de força

A 18 de agosto de 1976, um grupo de militares americanos foi encarregado de cortar um salgueiro situado na DMZ e que bloqueava a vista das forças da ONU sobre a Coreia do Norte. Situada na zona de segurança comum junto à Ponte sem Retorno, a árvore devia ter sido abatida uma semana antes, mas a chuva adiou a operação. Armados de machados, os militares começaram a deitar abaixo o salgueiro quando um grupo de soldados norte-coreanos se aproximou sob as ordens do tenente Park Chul. Conhecido como o Buldogue, este mandou parar a operação por a árvore ter sido plantada pelo próprio Kim Il-sung. Depois de uns minutos a observar os americanos e os sul-coreanos, Pak gritou aos seus homens: "Matem os sacanas!" Pegando nos machados que estes tinham largado, os soldados do Norte atacaram os homens, matando dois americanos: o capitão Artur Bonifas e o primeiro-tenente Mark Barrett. Visto pela CIA como um ataque premeditado, este mereceu uma resposta duríssima de Washington e Seul. Preocupado em fazer uma demonstração de força mas sem causar uma escalada na região, o presidente Gerald Ford lança a operação Paul Bunyan, assim chamada em homenagem ao mítico lenhador americano. A 21 de agosto, dezenas de homens com o apoio - meramente simbólico mas bem dissuasor - de veículos blindados, mísseis, helicópteros, caças e bombardeiros, e até de um porta-aviões, foram cortar a árvore, armados com serras elétricas. Pyongyang respondeu enviando para o local 150 a 200 homens, que se limitaram a ver o salgueiro cair. Terminada a operação, a tensão manteve-se alta na DMZ. Mas, por pressão da ONU, Pyongyang viria a reconhecer a culpa na morte dos americanos.

Explosão do voo 858 da Korean Air

O Boeing 707 da Korean Air seguia de Bagdad, no Iraque, para Seul quando explodiu no ar a 29 de novembro de 1987. A causa foi uma bomba colocada num compartimento na cabina por dois agentes norte-coreanos. O casal desembarcou na primeira escala do voo 858, em Abu Dhabi, escapando à explosão que matou as 104 pessoas a bordo. Prestes a ser apanhado no Bahrein, o casal tentou suicidar-se com cianeto escondido nos cigarros. O homem morreu, mas a mulher seria condenada à morte e depois amnistiada pelo presidente sul-coreano Roh Tae-woo. Antes disso, implicou Kim Jong-il, filho e sucessor de Kim Il-sung, no ataque. Denunciando um "atentado", os EUA incluíram a Coreia do Norte na lista de Estados que apoiam o terrorismo.

Naufrágio de navio e uma ilha bombardeada

A 26 de março de 2010 a corveta sul-coreana ROKS Cheonan afundou-se no mar Amarelo, morrendo 46 das 104 pessoas a bordo. A investigação liderada por peritos da Coreia do Sul, EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Suécia concluiu que o navio foi atingido por um torpedo lançado por um minissubmarino norte-coreano. Pyongyang negou a autoria do ataque. Meses depois, em novembro, a artilharia norte-coreana disparava sobre a ilha de Yeonpyeong, provocando uma resposta do Sul, fazendo três baixas do lado dos sul-coreanos e dez do lado do Norte. Três anos após Kim e Roh terem assinado uma declaração de paz (apesar de em 2006 Pyongyang ter realizado o seu primeiro ensaio nuclear), a situação na região voltava a ter uma escalada.

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