Arundhati Roy: dois romances, duas nomeações para o Booker
E a vencedora é Arundhati Roy... Ainda é cedo para esta alegada proclamação mas não será de admirar que a escritora que só escreveu dois romances, o primeiro dos quais premiado também com o Booker Prize (nessa altura ainda não tinha a designação Man Booker Prize) com O Deus das Pequenas Coisas volte a ganhar o importante galardão literário com o seu novo livro O Ministério da Felicidade Suprema.
O regresso de Arundhati Roy às listas do Prémio Man Booker até parece uma história de ficção, pois retrata uma escritora que só publicou dois romances em toda a sua vida e ambos integraram as listas de um dos mais importantes júris literários da edição europeia.
É impossível ignorar que foi ela a primeira autora de nacionalidade indiana a receber o Booker em 1997, por um romance que foi um sucesso mundial, tendo vendido mais de oito milhões de exemplares em todo o mundo e em Portugal o impressionante número de 80 mil.
Entretanto, Arundhati Roy esteve duas décadas distante da vida de romancista, sendo que as perguntas sobre o seu hipotético regresso eram constantes. A resposta surgiu de repente a 19 de dezembro, quando a editora revelou que iria ser publicado um novo romance seu.
Não é que tenha estado parada, pelo contrário, desenvolveu uma intensa produção de escrita de ensaios sobre política e cultura contemporâneas, bem como um forte ativismo contra a globalização, a proliferação de armas nucleares e a industrialização. Atividades de protesto ou de pedagogia que lhe deram o prémio Woman of Peace an Rights Awards em 2003 e o Sydney Peace Prize em 2004.
Pode dizer-se que a concorrência também é forte desta vez, mas um prémio só se torna importante se os seus titulares o forem no panorama da literatura mundial. É esse o caso da escritora indiana, que, no seu regresso à literatura, oferece uma história muito poderosa e conseguida sobre a questão do género e que, ao mesmo tempo, constrói o retrato social de um dos países com mais população no mundo tão polémico como perfeito.
Entre os escritores que chegaram à lista quase final está o norte-americano Paul Auster, que, por coincidência, também esteve ausente das livrarias com nova obra durante sete anos. Um terço do tempo em que Arundhati Roy permaneceu, mas não satisfez tanto as expectativas como aconteceu com o romance desta. Diga-se que Arundhati Roy e Paul Auster estarão em Portugal, no Festival Internacional de Cultura de Cascais, pouco antes do anúncio da shortlist.
Como o júri ainda não decidiu essa shortlist - os nomes só serão anunciados a 13 de setembro -, a dúvida vai prolongar-se por mais mês e meio e o vencedor do pequeno grupo de finalistas só será conhecido a 17 de outubro.
Outras autoras poderão ser também grandes candidatas ao Man Booker deste ano, como Zadie Smith ou de Ali Smith, cujos novos romances têm surpreendido os leitores e a crítica. O romance da primeira, Swing Time, conta a história de duas raparigas que "nascem e crescem no lado errado da cidade", escrito num ritmo muito musical e com um sabor cinematográfico. O romance da segunda, Outono, é o primeiro de uma tetralogia que vai tratar das estações do ano e pretende analisar a experiência sobre o passar do tempo.
Outro dos sérios candidatos é George Saunders, que teve recentemente este seu livro, Lincoln no Bardo, traduzido em língua portuguesa. Um romance que a concorrente Zadie Smith considerou "uma obra--prima" e que é a estreia do escritor neste registo. Fica-se, portanto, à espera da decisão do júri.