Artistas também entram no combate eleitoral
Rajoy criticou artistas "untados" pelo poder
Javier Bardem fumou um cigarro politicamente incorrecto, na conferência de imprensa, após ter recebido, no domingo, o Oscar de melhor actor secundário, e disse: "Coca Cola? Nada. Cerveja. Penso divertir-me muitíssimo esta noite." Em Espanha, durante todo o dia seguinte, a agenda informativa foi monopolizada pelos Oscares (com a consequente farra de Bardem), e o debate entre Mariano Rajoy e José Luis Zapatero. Na jornada televisiva, os dois temas acabariam por se cruzar nos últimos minutos do debate, quando Zapatero disse: "Alguém (Rajoy) que ofende a gente da cultura que transmite a criação espanhola, como Javier Bardem, que dedicou a Espanha o seu Oscar, (...) não pode presidir a este país."
Tudo começou ainda na pré-campanha, muito antes da entrega dos Oscares e do debate, quando Rajoy acusou um grupo de artistas espanhóis, que participara num tempo de antena do PSOE, de estarem "untados" pelo poder, ou seja, de viverem à custa do dinheiro dos impostos. Entre eles estavam Pedro Almodóvar, o pintor Miguel Barceló e o cantor Joaquín Sabina.
Rajoy referia-se a uma nova lei de propriedade intelectual, que prevê o aumento de preço dos aparelhos de cópia de conteúdos, como sejam as máquinas fotográficas ou os cds. Esse dinheiro será recebido pelos artistas através da Sociedade General de Autores.
No dia seguinte, num programa de televisão, o actor português Joaquim de Almeida, que está em Madrid a promover o filme Óscar, Una pasión surrealista, no qual interpreta a figura do pintor Óscar Dominguéz, começou a entrevista por criticar precisamente a posição expressa por Mariano Rajoy.
O problema poderia nunca ter chegado até aos dias da campanha. Mas Javier Bardem, no seu discurso de agradecimento do Oscar de melhor actor secundário (pelo seu papel no filme Este País Não é para Velhos), disse em espanhol: "Isto é para os cómicos de Espanha que trouxeram a dignidade e o orgulho ao nosso ofício. Isto é para Espanha." E os analistas encontraram logo ali uma mensagem contra Rajoy, que nessa mesma madrugada, aliás, mandou um telegrama de parabéns ao actor.
Durante o debate televisivo de segunda-feira, o tema dos "untados" reapareceu por iniciativa de Zapatero, e Rajoy afirmou sentir-se insultado pelos artistas da plataforma de apoio ao PSOE (não por todos os artistas, salientou).
Na ressaca do debate, Joan Manuel Serrat, cantor e compositor e conhecido apoiante de Zapatero, disse: "Dolors Nadal (uma candidata do PP) disse que viajo em jacto privado e em limusina. Ando em aviões comerciais que pago eu. Se não puder demonstrar que o PSOE me leva por aí em limusina, teremos que ver-nos em tribunal."
No meio de toda esta luta, um comediante conhecido como Follonero tinha-se encontrado com os dois candidatos para lhes propor que, caso conseguissem dizer Javier Bardem no debate, teriam o seu voto. Zapatero antecipou-se a Rajoy, e Follonero já confirmou que cumprirá a promessa.