Arte Déco: a preservação do clássico e do modernismo
"O que quer dizer Arte Déco? Nada e tudo porque a arte decorativa pode encontrar-se em releituras de estilos africanos, tailandeses ou japoneses." Quem o diz é Márcio Roiter, presidente do Instituto de Art Déco no Brasil em conversa com o DN no Museu B-MAD, onde também é curador.
Márcio Roiter e Emmanuel Bréon, ex-diretor do Museu dos Anos 30 em Paris, estiveram em Portugal para as celebrações do segundo aniversário do Museu B-MAD, entre 22 e 25 de abril. Márcio Roiter apresentou a sua atual investigação sobre As Origens Indígenas Pré-Cabralinas do Art Déco Brasileiro. "Há muitos anos que tenho andado a pesquisar nessa direção. É um assunto bastante recente, que vai buscar a Arte Déco nas colónias indígenas", explicou o presidente do Instituto de Art Déco no Brasil.
A coleção exposta no Museu B-MAD pertence a Joe Berardo e pretende recriar diferentes épocas que inspiraram peças decorativas. Cada sala do museu conta a sua história. A coleção de Berardo esteve exposta pela primeira vez em 2005 no Porto, tendo também passado depois pela Madeira. Desde 2021 encontra-se em permanência no Museu B-MAD, na Rua 1º de Maio, em Lisboa.
O museu abriu as portas durante a pandemia, em pleno confinamento, e só agora, passados dois anos, é que os curadores conseguiram ver finalmente a exposição. "Em setembro de 2019, nós nos reunimos no fundo, entre as obras e as plantas. Não adivinhávamos que em janeiro de 2020 íamos ter a pandemia e o confinamento. E eu só consegui visitar o museu agora".
A sigla para o nome do museu B-MAD significa Berardo Museu Arte Déco, mas deriva também da relação deste estilo com os loucos anos 20, parecendo a expressão em inglês "be mad" - "sê louco".
Para Márcio Roiter, a sala do museu que se destaca é que exibe os painéis alegóricos de Raphael Delorme que mostram a Europa, América, Ásia, África e a Oceânia. "Estes quadros demonstram como a Arte Déco chegou a todo o mundo. As viagens de barco ajudaram na disseminação deste estilo".
Apesar das suas origens nos anos 1910, o apogeu da Arte Déco foi nos loucos anos 20 na Europa e Estados Unidos. O nome Déco é uma abreviatura para a primeira exposição em 1925 Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas, que contou com cerca de 15 milhões de visitantes. Este estilo veio mudar as artes de decoração, arquitetura e pintura, indo buscar inspirações a tempos ou civilizações mais antigas. Este estilo foca-se no uso de formas geométricas e linhas retas.
O movimento da Arte Déco incentivou e criou as Art Déco Societies, que junta cidades que mantenham referências deste estilo arquitectónico. Um exemplo é o distrito de Arte Déco em Miami, nos Estados Unidos, com vários edifícios característicos deste estilo. Outro exemplo é a Cidade Branca de Telavive, em Israel.
Márcio Roiter, assim como Emmanuel Bréon, defendem a criação do Instituto de Arte Déco em Portugal para proteger e incentivar esta arte no país. "Pretende-se conscientizar os empresários, os administradores que muitas vezes por desconhecimento destroem prédios importantes".
Para além de um Instituto, Márcio Roiter afirma que para Lisboa se tornar uma Art Déco Society precisa de organizar um Congresso Mundial de Arte Déco. "Lisboa tem um bairro completamente Arte Déco ao redor do Hotel Ritz, ali no parque Eduardo VII e há um museu dedicado a este estilo, o que já é um passo em frente". "Só com um olhar estrangeiro consigo olhar para Lisboa e ver que tal ainda não esteja a ser valorizado como deveria", acrescentou.
Como presidente do Instituto Arte Déco no Brasil, Márcio Roiter explica que este " tem por premissa pesquisar, proteger e celebrar a presença da Arte Déco, lembrando que este estilo se diferencia de tudo o que tinha vindo do passado". Para ele, maior dificuldade das artes decorativas na sociedade atual é conseguir que os detentores das obras se sintam motivados a preservar a herança "sem examinar como era a política da época".
mariana.goncalves@dn.pt