Arrastão político
A política brasileira parece uma matriosca: por cada suspeito do Lava-Jato tirado da caixa aparece logo outro tão ou mais mergulhado no megaprocesso de corrupção. Eduardo Cunha, rosto do impeachment e presidente da Câmara dos Deputados, e que vinha pregando moralidade mesmo sob a alçada da investigação, foi entretanto destituído do cargo pelo Supremo Tribunal Federal. Claro que o parlamento resolveu de imediato a questão, fazendo subir na hierarquia mais um talento escondido, Waldir Maranhão. Acontece que Maranhão não foge ao padrão da classe e também está mergulhado na investigação Lava-Jato, juntando-lhe ainda a Miqueias, relacionada com desvios de fundos de pensões, e ainda uma ação do Ministério Público sobre receitas ilícitas na campanha eleitoral de 2010. Ou seja, se Cunha tinha um processo para a troca, Maranhão responde com três. É obra. Este exemplo é elucidativo do beco em que se encontra o Brasil. Os tentáculos do polvo chegam de tal maneira a todo o lado que não basta mover processos de destituição de governantes através de mecanismos políticos ou judiciais para limpar a nomenclatura ou aliviar o clima social. Se Dilma cair por "crimes de responsabilidade", o vice-presidente Temer tem as costas de tal forma arqueadas com o envolvimento no Lava-Jato (fora o pedido de impeachment que também carrega além da investigação em curso sobre financiamento à sua campanha em 2014) que só prolongará a agonia do Brasil. O melhor nestes momentos é que a investigação limpe de vez o sistema destas personagens e que se devolva a palavra aos eleitores. É verdade, os requisitos legais à convocação de eleições antecipadas são apertados. Mas há um que, cumprido, só faria bem ao Brasil: destituir também Temer. O momento pede limpeza total, não panos sujos para limpar sujidade entranhada.