Arquivos revelam proximidade entre Durão e Goldman Sachs
Banqueiros do Goldman Sachs faziam chegar "confidencialmente" ao gabinete de Durão Barroso sugestões de alterações às políticas da União Europeia, escreve hoje o Público. O jornal teve acesso a e-mails e cartas que constam do arquivo de documentos da Comissão Europeia e avança que a proximidade entre o agora presidente não executivo do banco e o Goldman Sachs já vem dos tempos em que este era presidente da Comissão Europeia. Durão nega qualquer tipo de relação preferencial com o banco.
O Público cita uma carta, datada de 30 de setembro de 2013, que Lloyd Blankfein, CEO do banco norte-americano. "Muito obrigado por ter conseguido roubar tempo à sua agenda para vir ao Goldman Sachs. Gostei muito da nossa discussão produtiva sobre as perspetivas económicas mundiais", transcreve o jornal, explicando que o remetente também agradece o facto de Durão ter participado numa reunião do banco. "Sei que eles consideraram a sessão extremamente enriquecedora", cita.
Segundo o jornal, não existe uma ata desta reunião, nem registo da mesma na agenda do então presidente da Comissão Europeia.
Numa resposta escrita enviada ao Público, Durão Barroso diz que não tinha qualquer relação preferencial com aquele banco. "É importante sublinhar que se enquadra naturalmente nas competências e deveres do presidente da Comissão a realização de contactos com entidades externas. Mas, ao singularizar-se uma determinada entidade financeira, pode estar a sugerir-se que houve de algum modo uma relação privilegiada. Desminto categoricamente qualquer contacto ou relação especial com qualquer entidade financeira durante o exercício dos meus mandatos na Comissão", cita o jornal.
Durão Barroso lembra ainda, segundo o Público, que foi presidente da Comissão Europeia durante uma das maiores crises financeiras. "Naturalmente, mantive contactos institucionais - transparentes e convenientemente registados nos arquivos da Comissão - com as mais variadas entidades políticas, empresariais, sindicais e financeiras".
A ida de Durão Barroso para o cargo de presidente não-executivo tem suscitado muitas críticas e dúvidas, ao ponto de perder o direito a passadeira vermelha na Comissão Europeia e passar a ser tratado como lobista.
Ontem, o ex-presidente da Comissão Europeia voltou a dizer-se alvo de discriminação. "Por que razão há contra mim? A minha opinião é porque sou português. Pode-se gostar ou não da minha atitude, concordar ou não com a minha escolha, mas há uma coisa que é certa: sou um cidadão português, estou no pleno uso dos meus direitos. Não aceito que me sejam limitados os meus direitos. Não fui para nenhum cartel da droga, estou a trabalhar numa entidade legal", defendeu.
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O responsável reiterou que fez tudo de forma "transparente, regular, escrupulosamente certa" e, por isso, não aceita que lhes sejam atribuídas "intenções malévolas e comportamentos incorretos".