Arouca ataca vespa asiática com método que também é eficaz em ninhos fracionados
Comparativamente às incinerações, que só podem efetuar-se durante a noite para garantir maior presença no ninho das chamadas vespas asiáticas e que implicam a intervenção de bombeiros para controlo do fogo, há várias vantagens no sistema que a autarquia de Arouca vem implementando sob execução técnica da associação "Nativa - Natureza, Invasoras e Valorização Ambiental".
"Este procedimento pode ser aplicado durante o dia, não implica escadas nem fogo, consegue chegar a ninhos enterrados ou escondidos sem necessidade de levantar telhados ou abrir paredes e, enquanto a incineração destrói um só, isolado, este método atua sobre todos os ninhos-satélite que a colónia possa ter, mesmo quando ainda não os conhecemos nem sabemos onde estão", explicou Marco Portocarrero, da Nativa.
Na prática, município e associação ambientalista começam por marcar com localização GPS os ninhos identificados por fontes tão diversas quanto proprietários agrícolas, que os descobrem nos seus terrenos, ocupantes de moradias, que os encontram na varanda, autarcas das juntas de freguesia, alertados por empresas, e até carteiros, que os avistam nos seus circuitos de entrega.
"O compromisso com a Câmara é o de resolvermos todos os casos no espaço médio de 48 horas", declarou à Lusa Marco Portocarrero.
Isso passa por preparar iscos alimentares impregnados com um inseticida "que não representa qualquer risco para o ser humano nem para a vegetação", após o que esse engodo é inserido dentro do ninho com recurso a varas de carbono facilmente manuseadas por uma única pessoa e aptas a intervir até 50 metros de altura.
Uma vez furado com a seta envenenada o invólucro do ninho, que se assemelha a "cartão e é feito à base de resíduos de cascas e fibras amassados numa liga de papa de açúcar", o isco fica a repousar no interior, para ser comido pelas vespas adultas e por elas passado às larvas e a outros indivíduos da espécie em diferentes estágios de crescimento.
"Matar um ninho que só tem vespas obreiras não serve para nada, porque as rainhas é que asseguram a propagação e podem estar noutro abrigo da mesma comunidade", realçou Marco Portocarrero.
Segundo o responsável, com este isco, "as vespas não notam a presença do veneno e ele deixa-as desorientadas, como que sob o efeito de uma bebedeira, pelo que elas deixam de conseguir levar alimento para os outros ninhos fracionados, as adultas morrem em dois dias e o resto da colónia extingue-se totalmente em duas semanas".
A parceria entre a Câmara Municipal de Arouca e a Nativa arrancou em maio de 2018 e, até ao final de setembro, já permitiu destruir 150 ninhos de vespa velutina no território do concelho.
"A propagação da espécie está a verificar-se a um ritmo exponencial e as pessoas ainda não perceberam bem o problema, porque não sabem que as vespas estão a matar populações inteiras de abelhas e, sem elas, não há a polinização [necessária para a produção de frutas, vegetais e sementes]", observou Filipe Amorim, do Gabinete de Planeamento da Câmara de Arouca.
Nos quase 330 quilómetros quadrados do concelho, a vespa velutina começou a ser combatida em 2015, mas, dadas as condições favoráveis da região em termos de clima e alimento, as medidas iniciais não impediram a rápida disseminação da espécie: em 2016 foram intervencionados 70 ninhos e em 2017 esses já eram 220.
Margarida Belém, presidente da autarquia, diz que foi essa expansão que ditou o recurso a uma estratégia mais veemente de luta local contra a espécie invasora.
"Sinal da importância que esta matéria tem para nós é o investimento que estamos a fazer na presente época de 2018/2019, que é na ordem dos 15.000 euros, o dobro do investido na época anterior", concluiu.